Folha de S. Paulo


Papa Francisco chega aos EUA após viagem emotiva a Cuba

O papa Francisco chegou nesta terça-feira (22) a Washington, iniciando nos EUA a última etapa de uma viagem que o levou primeiramente a Cuba.

O pontífice foi recebido pelo presidente Barack Obama, sua mulher, Michelle, e pelo vice-presidente Joe Biden.

Kevin Lamarque
Presidente dos EUA, Barack Obama, recebe o papa Francisco em Washington
Presidente dos EUA, Barack Obama, recebe o papa Francisco em Washington

Segundo a Casa Branca, o líder americano fez questão de ir à cerimônia de boas-vindas na base militar de Andrews para simbolizar o forte respeito que os americanos sentem pelo Santo Padre.

De acordo com o porta-voz Josh Earnest, Francisco é uma fonte de inspiração não somente para os católicos, mas para pessoas de todas as religiões em todo o mundo que compartilham os valores do papa.

Francisco, que mediou a aproximação entre Cuba e EUA após mais de 50 anos de inimizade, resultando no restabelecimento de relações diplomáticas, viajou a Washington a bordo do avião da Alitalia que o levou de Roma a Cuba.

Obama, primeiro presidente negro dos EUA e protestante, expressa uma grande simpatia por Francisco, a quem geralmente chama de "papa dos pobres".

A imprensa dos EUA faz uma grande cobertura da visita do pontífice, que tem um índice de apoio de 66% dos americanos, segundo uma recente pesquisa.

Mas seus apelos a favor dos pobres, contra o capitalismo selvagem e de combate ao aquecimento global também renderam muitas críticas dos conservadores, dos meios econômicos liberais, de Wall Street ao ultraconservador Tea Party, e do Partido Republicano.

O fato de chegar ao país procedente de Cuba aumenta ainda mais a irritação daqueles que alegam que o papa é um marxista disfarçado ou um traidor da fé católica, muito flexível com a doutrina.

Perfil religioso dos EUA - Religiões* (% da população)

WASHINGTON, NOVA YORK E FILADÉLFIA

Os temas que o primeiro papa latino-americano deve abordar nos EUA, especialmente na quinta-feira (24) ante o Congresso e na sexta-feira (25) nas Nações Unidas, são altamente controvertidos.

Entre eles figuram a proteção e recepção de migrantes; a defesa do meio ambiente, com um firme posicionamento pela revolução energética radical e desaceleração econômica, segundo fontes vaticanas.

Também não faltarão críticas à ditadura da tecnologia e das finanças, assim como a denúncia da responsabilidade dos vendedores de armas e das grandes potências na "terceira guerra mundial em cotas" em andamento.

Sua visita será realizada sob forte medidas de segurança, já que o papa costuma viajar em veículos abertos para estar em contato com os fiéis.

Francisco estará presente na Assembleia Geral da ONU em Nova York, que receberá 170 líderes mundiais.

Sua agenda também prevê encontros com os mais desfavorecidos da sociedade americana, entre eles imigrantes, sem-teto ou presidiários.

Também presidirá uma cerimônia com a participação de líderes de várias religiões no memorial do World Trade Center contra o terrorismo e a favor do respeito entre as diferentes crenças.

Na Filadélfia presidirá no sábado (26) e no domingo (27) o fim de um encontro mundial de famílias católicas, onde é aguardada a presença de 1,5 milhão de fiéis.

CUBA

Previamente, o papa argentino havia selado sua visita a Cuba com um encontro na catedral de Santiago de Cuba, no qual convocou todos a cuidar da família, que chamou de antídoto contra "a fragmentação e a massificação" que convertem os homens em "indivíduos isolados fáceis de manipular e de governar".

Nesse grande porto na região leste da ilha, que viu a revolução cubana nascer e não fica muito longe da controversa base americana de Guantánamo, o papa agradeceu os cubanos por sua hospitalidade calorosa.

"Terminar minha visita vivendo esse encontro em família é um motivo para agradecer a Deus pelo calor de gente que sabe receber, acolher, fazer se sentir em casa... obrigado a todos os cubanos", declarou.

Anteriormente, em uma missa no Santuário da Caridade do Cobre, padroeira oficial, destacou que as dores e sofrimentos que os cubanos passaram não apagaram sua fé.

O pontífice se referiu ao período no qual o ateísmo foi imposto na ilha após a revolução cubana de 1959 —Cuba passou a ser um Estado laico em 1992—, quando os fiéis eram mal vistos e inclusive discriminados pelas autoridades comunistas.

As relações entre o Estado e a Igreja se tornaram fluidas desde a visita de João Paulo 2º, em 1998, e agora essa instituição é interlocutora privilegiada do governo.


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