Folha de S. Paulo


Visita do 'papa pop' mobiliza americanos

Não se fala em outra coisa. Desde a semana passada, o papa surge onipresente na TV, rádio, internet, revistas e primeiras páginas dos jornais dos EUA. É conversa frequente no metrô, restaurantes e bares mesmo entre aqueles que não comungam da fé católica ou de nenhuma outra religião.

Chama a atenção o entusiasmo do americano branco, de tradição protestante, cético, pelo papa argentino, frequentemente lembrado por não julgar os homossexuais, abrir as portas da igreja aos divorciados e pedir por cuidados com o planeta

Diante do descrédito em relação à política tradicional, os americanos parecem depositar no pontífice a autoridade para endereçar apelos pela paz no Oriente Médio, contra a pena de morte, pela abertura aos refugiados e aos imigrantes.

Timothy A. Clary/AFP
Venda de camisetas
Venda de camisetas "Eu amo o papa Francisco" na Times Square (Nova York) antes da visita aos EUA

O papa desembarca no país nesta terça (22) vindo de Cuba, no momento em que os EUA restabelecem as relações diplomáticas com a ilha. Não é por acaso, os anfitriões da visita são da comunidade latina, que enriquecem, ganham prestígio, voz e se mesclam com as gerações mais antigas de imigrantes.

Apesar do abalo com os escândalos de pedofilia, a Igreja Católica americana é considerada uma das mais progressistas do mundo. Nas paróquias, quase não há estátuas de santos nem figuras martirizadas da arte sacra.

Quem já teve outro relacionamento (desde que sem filhos) pode solicitar uma declaração de nulidade, com relativa facilidade, da união anterior para se casar na igreja. Em algumas paróquias, há folhetos para quem procura orientação sobre aborto ou divórcio. Há até agências de namoro para divorciados, viúvos e solteiros.

MINORIA ATUANTE

Nos EUA, os católicos são perto de 30% daqueles que professam alguma fé, ante 51% de protestantes. No entanto, trata-se de um grupo articulado e atuante. É incomum a figura do chamado católico não praticante, como ocorre no Brasil e na Europa. Os católicos americanos vão à missa aos domingos, praticam os sacramentos e participam das atividades assistenciais e sociais das paróquias.

Muitos chegaram à igreja porque estudaram (ou matricularam os filhos) em escolas católicas, consideradas de alta qualidade. Outros se interessaram após casar ou estreitar o relacionamento com os latino-americanos.

Para os americanos, o papa representa a boa nova de um mundo conectado, tolerante, que convive bem com as diferenças, mas que não se cala diante diante da pobreza nem das dificuldades da vida privada moderna.

O papa fala de relacionamentos, dos cuidados com crianças e idosos, do consumismo, além de desemprego, saúde pública e educação de qualidade –assuntos que interessam não apenas aos grupos católicos ou religiosos.


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