Folha de S. Paulo


Candidato 'socialista' salta nas pesquisas entre eleitores democratas

Bernie Sanders, 74, o "socialista democrata" que quer ser o candidato do partido de Barack Obama à Casa Branca em 2016, tomou para si uma tarefa que diz ser rara entre políticos: pregar para convertidos é fácil, diz ele à plateia; difícil é pregar para quem pensa diferente.

Judeu e defensor de ideais socialistas (mas cuidadoso com o rótulo), Sanders falou a 12 mil estudantes evangélicos em uma universidade religiosa na Virgínia no último dia 14. Foi ovacionado.

"As visões de vários de vocês e a minha são muito, muito diferentes em questões importantes", introduziu.

"Acredito nos direitos das mulheres [quatro segundos de aplausos] e no seu direito sobre o próprio corpo [três segundos de aplausos]. Acredito no casamento gay [quatro segundos]. Mas vim aqui porque creio ser importante que pessoas com opiniões diferentes sejam capazes de ter discussões civilizadas."

Uma intervenção do moderador sobre o direito das crianças começar no útero foi aplaudida por 27 segundos.

Paul J. Richards/AFP
US Democratic presidential candidate, Senator Bernie Sanders delivers remarks during a campaign rally in Manassas, Virginia on September 14, 2014. AFP PHOTO/PAUL J. RICHARDS ORG XMIT: PJR011
Senador Bernie Sanders participa de ato de campanha na Virgínia

BÍBLIA

Para defender o meio termo, Sanders citou a Bíblia.

"Sou motivado por uma visão que está em todas as grandes religiões e é dita de forma clara e bonita no [Evangelho de] Mateus, capítulo 7, versículo 12: 'Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós'."

No discurso, o pré-candidato atacou o que considera excessivo em seus adversários, mesmo os correligionários: "muito barulho e piada".

Seu discurso contra a concentração de riqueza nos EUA e a favor de direitos como assistência de saúde para todos atrai cada vez mais gente.

Uma série de pesquisas da rede ABC News com o jornal "The Washington Post" mostra uma curva ascendente: Sanders tinha 5% das intenções de voto entre os democratas em março, passou a 10% em maio, a 12% em julho e dobrou para 24% em setembro, no último levantamento, publicado na segunda-feira (14).

E-MAIL

O salto coincide com o momento de fragilidade da líder da disputa entre os democratas, Hillary Clinton, após ganharem força acusações de que ela foi negligente como chanceler de Obama (2009-2013) ao usar uma conta de e-mail pessoal para tratar de temas delicados de Estado.

Desde março, a ex-senadora viu a intenção de votos cair de 66% em para 42%.

Levantamentos mostraram que Sanders venceria Hillary nos Estados de Iowa e New Hampshire, os primeiros a promoverem primárias partidárias e, por isso, capazes de influenciar os demais.

No partido, porém, alternativas começam a ser aventadas, e incluem nomes como o do atual secretário de Estado, John Kerry, que perdeu a eleição de 2004, e o do vice-presidente Joe Biden.

A ascensão de Sanders, um político independente cuja candidatura não era levada a sério, acendeu um alerta.

"Se os líderes partidários acharem, na virada do ano, que Bernie Sanders tem chance real de ser o candidato democrata, não há dúvida de que vão conversar com Biden ou Kerry, ou até com [o ex-vice presidente Al] Gore", disse, ao jornal "The New York Times", Garnet Coleman, do comitê nacional do Partido Democrata.

IMIGRAÇÃO

Nascido no Brooklyn, em Nova York, Sanders é filho de um judeu que fugiu da Polônia no Holocausto.

Formou-se em ciência política na Universidade de Chicago e foi carpinteiro e documentarista até ser eleito, em 1981, prefeito de Burlington, Vermont, onde fez carreira política.

Em 1990, tornou-se deputado, e em 2006, senador.

Mais à esquerda que Hillary, faz contrapontos mais extremos do que os do empresário Donald Trump entre os republicanos, normalmente comparado a ele. Salvo pelo tema mais polêmico da campanha até agora: a imigração.

Embora favorável à regularização de 11 milhões de imigrantes clandestinos nos EUA, Sanders acha imprudente facilitar a entrada de de cidadãos de outros países -mas por outros motivos.

"Há uma razão para Wall Street e o setor empresarial defenderem uma reforma no sistema imigratório", disse em julho.

"O que acho que há por trás de seus interesses são as levas de mão de obra barata que puxará para baixo os salários dos americanos."

.


Endereço da página:

Links no texto: