Folha de S. Paulo


Quase 90% dos refugiados estão em países em desenvolvimento, diz ONU

Um aumento súbito no número de pessoas que buscam refúgio na Europa, este ano, está forçando os líderes europeus a buscar hesitantemente por respostas à crise, e tem causado tanto medo quanto empatia entre os habitantes do continente.

Saiba qual é a dimensão da crise europeia e a atual situação de outros países que abrigam refugiados:

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Como a crise de refugiados na Europa se compara a outras atualmente em curso no mundo?

No final do ano passado, existiam cerca de 19,5 milhões de refugiados no planeta, de acordo com o Acnur, escritório da ONU para refugiados. Cerca de metade deles provinham da Síria, Afeganistão e Somália.

A Turquia abriga o maior número mundial de refugiados —quase 2 milhões.

Em seguida vem o Paquistão, que abriga mais de 1,5 milhão deles, o Líbano tem 1,1 milhão, o Irã tem perto de 1 milhão, a Etiópia tem cerca de 660 mil e a Jordânia tem cerca de 630 mil, de acordo com o Acnur.

Países em desenvolvimento abrigam a vasta maioria dos refugiados do planeta —86% deles— e cerca de 6 milhões encontraram abrigo em países com renda per capita anual média abaixo dos US$ 5 mil.

Saiba qual a distribuição de refugiados pelo mundo

Qual é a dimensão da crise europeia?

Mais de 380 mil pessoas chegaram à Europa por mar este ano, de acordo com o Acnur. Os que chegam à Grécia viajam para o norte da Europa via Macedônia, Sérvia e Hungria.

O número é baixo se comparado aos quase 4 milhões de refugiados sírios recebidos pela Turquia, Líbano e Jordânia. O Líbano abriga 1,1 milhão de refugiados, o que equivale a um quarto de sua população. A Turquia abriga cerca de 2 milhões, e a Jordânia, 630 mil pessoas.

A União Europeia tem mais de 500 milhões de habitantes, e assim a proporção de refugiados e imigrantes com relação à população total é baixa.

"Não se trata de uma crise em termos de números", disse Flavio di Giacomo, porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM) em Roma.

"A emergência existe por conta da maneira pela qual as pessoas são forçadas a chegar à Europa, colocando suas vidas nas mãos de contrabandistas e se arriscando no mar, e depois caminhando através dos Bálcãs nessa situação terrível", acrescentou.

Mais de 2,7 mil pessoas morreram fazendo a travessia este ano —a maioria das mortes ocorreu na travessia da Líbia à Itália. Cerca de cem delas morreram tentando atravessar da Grécia para a Turquia.

Por que o número de pessoas que buscam refúgio na Europa aumentou subitamente este ano?

Ainda que o número de pessoas que estejam fazendo a perigosa travessia marítima da Líbia à Itália não tenha mudado significativamente, de acordo com a OIM, houve uma disparada no número daquelas que atravessam o Mediterrâneo da Turquia para a Grécia —uma jornada muito mais curta e menos traiçoeira.

Até o início de setembro, mais de 250 mil imigrantes e refugiados haviam chegado à Grécia em 2015, ante 34 mil no ano de 2014 como um todo, de acordo com dados da OIM. A maioria deles vem da Síria.

Outras nacionalidades incluem afegãos, albaneses, paquistaneses e iraquianos.

Muitos estão fugindo do agravamento do conflito na Síria, e alguns deixaram campos de refugiados em outros países que fazem fronteira com a Síria, onde este ano o Programa Mundial de Alimentos teve de reduzir à metade sua assistência alimentar devido ao cortes de verbas.

Agora se tornou menos provável que sírios façam a jornada via Líbia, devido ao agravamento do conflito nesse país.

A maioria das pessoas que arrisca a vida para chegar à Europa via Líbia está fugindo da pobreza, conflitos ou governos opressivos em países como Eritreia, Somália, Sudão, Nigéria e Mali.

Segundo a definição do Acnur, os refugiados são aqueles forçados a fugir de seus países devido à guerra ou ao medo de perseguição, e têm proteção sob as leis internacionais. Já os imigrantes deixam um país voluntariamente em busca de uma vida melhor.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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