Folha de S. Paulo


Cuba anuncia indulto a 3.522 presos em homenagem ao papa Francisco

Em um aceno ao papa Francisco, o regime cubano anunciou nesta sexta-feira (11) que concederá indulto a 3.522 presos. O compromisso de libertação dos presos ocorre uma semana antes da chegada do pontífice à ilha.

Este é o maior número de detentos libertados antes de uma visita papal, uma tradição do regime cubano. Na lista, porém, não entram condenados por crimes contra a segurança do Estado, o que inclui presos políticos.

Segundo o jornal estatal "Granma", os detentos foram escolhidos após o governo fazer uma avaliação de quatro quesitos: o motivo da condenação, o comportamento do preso no cárcere, o tempo de pena cumprido em regime fechado e seu estado de saúde.

"Entre os indultados estão pessoas com mais de 60 anos de idade, jovens com menos de 20 anos sem antecedentes penais, doentes crônicos, mulheres, (...) assim como estrangeiros cujo país de origem garantiu repatriação", informou a publicação.

Salvo por razões humanitárias, não foram indultados condenados por crimes hediondos como homicídio e estupro, tráfico de drogas, abate ilegal de gado e delitos contra a segurança do Estado.

Nesta última categoria, incluem-se os presos políticos. Ativistas confirmam a exclusão de opositores ao ditador Raúl Castro da medida.

"Isto é uma fantasia. Eles estão tentando mostrar uma face diferente, mas na realidade a posição não mudou. Eles não estão sendo mais flexíveis em todo o cenário político", disse o diretor da Campanha por Outra Cuba, Antonio Rodihes, ao jornal britânico "The Guardian".

INDULTO CUBANO - Regime anuncia medida antes da visita do papa Francisco

A Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional afirma que há cerca de 70 presos políticos na cadeia. Em dezembro, o regime libertou 53, no marco da retomada das relações diplomáticas com os EUA.

O total libertado representa 5% dos cerca de 60 mil presos que existem nas cadeias de Cuba. Com 11 milhões de habitantes, o país tem a sexta maior taxa de detentos para cada 100 mil habitantes no mundo.

RECORDE

A visita marca os 80 anos do início das relações diplomáticas com o Vaticano. Em 1998, quando o papa João Paulo 2º foi ao país, o regime libertou 299 detentos.

A iniciativa repetiu-se em dezembro de 2011, meses antes de Bento 16 viajar à ilha. Na ocasião, foram indultados 2.991 presos.

O arcebispo de Havana, Jaime Ortega y Alamino, disse que parte dos indultos veio de pedidos de familiares dos presos à Igreja Católica.

A visita de três dias, que começará no próximo sábado (19), foi anunciada pelo Vaticano no início do ano. Nela, o papa Francisco passará pelas cidades de Havana, Holguín e Santiago de Cuba.

A viagem é vista como uma espécie de resposta à mediação papal para a retomada das relações com os Estados Unidos. Depois de passar por Cuba, Francisco seguirá diretamente para Washington.

Dentre as atividades do papa previstas para os EUA estão a visita ao presidente Barack Obama, os primeiros discursos de um pontífice na Assembleia-Geral da ONU e no Congresso americano e uma missa no Madison Square Garden, em Nova York.


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