Folha de S. Paulo


Países da Europa se dividem sobre acolhida a refugiados

A reação política ao apelo do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, mostra que a Europa está longe de um consenso para implementar a proposta de dividir 160 mil refugiados pelo continente.

Em um dia de mais cenas de pessoas tentando cruzar fronteiras em busca de asilo, Juncker detalhou nesta quarta-feira (9) seu plano e defendeu uma política única da UE sobre o tema.

Disse que é "hora de reagir" à crise que se agrava e que a realocação dos refugiados deve ser "compulsória" –e não voluntária– para 22 dos 28 países-membros da União Europeia.

Laszlo Balogh/Reuters
Refugiados sírios em estação de Budapeste, capital da Hungria, antes de partida de trem para Alemanha
Refugiados sírios em estação de Budapeste, capital da Hungria, antes de partida de trem para Alemanha

O plano exclui Itália, Grécia e Hungria, que hoje são a principal porta de entrada dos refugiados, além de Reino Unido, Irlanda e Dinamarca, que não integram o acordo comum do bloco sobre políticas de asilo.

O discurso de Juncker foi criticado por países do Leste Europeu contrários à imposição de receber essas pessoas.

Para debater as opções, uma reunião extraordinária entre ministros do Interior dos 28 países da UE está marcada para a próxima segunda-feira, dia 14.

Por enquanto, um acordo imediato parece distante. Juncker disse, no entanto, esperar que pelo menos alguns pontos sejam definidos no encontro.

A primeira-ministra da Polônia, Ewa Kopacz, afirmou, por exemplo, que um pedido de solidariedade não pode ser feito na base da "chantagem".

Já o premiê da Eslováquia, Robert Fico, disse considerar "irracional" a ideia de cotas. "Não vamos nos curvar a Alemanha e França", disse.

Discurso parecido adotou o ministro para assuntos europeus da República Tcheca, Tomas Prouza.

Editoria de Arte/Folhapress

ROTAS MIGRATÓRIAS - Europa recebeu mais de 380 mil imigrantes desde o início do ano, segundo Acnur

'CRITÉRIO JUSTO'

Os governos alemão e francês, alvos principais para pedido de asilos dos que chegam por outros países, lideram a articulação por divisão dos refugiados por cada país levando em conta a situação econômica.

"Precisamos de um acordo obrigatório sobre uma distribuição obrigatória dos refugiados entre todos os Estados sob um critério justo", afirmou a chanceler Angela Merkel nesta quarta (9), no Parlamento alemão.

Os 160 mil refugiados a serem beneficiados pelo plano são uma extensão dos 40 mil que já haviam sido anunciados em maio. Dos novos 120 mil, 31 mil seriam alocados na Alemanha, 24 mil na França e 14 mil na Espanha.

Fora dessa conta, o governo britânico diz que pode receber 20 mil em cinco anos.

A Alemanha estima que 800 mil pedidos de asilo sejam feitos ao país somente neste ano, mais do que para qualquer outro.

No último fim de semana, o país abriu as fronteiras a cerca de 15 mil refugiados que estavam na Hungria, cujo governo tem se oposto à recepção de migrantes em geral.

Nesta quarta, o país fechou uma rodovia para controlar o fluxo de milhares de refugiados que estão em Roszke, fronteira com a Sérvia. No mesmo dia, a Dinamarca bloqueou uma estrada para impedir que 300 pessoas chegassem ao país a partir do território alemão.

Dados do Acnur, a agência da ONU para refugiados, apontam que 381 mil pessoas cruzaram o mar Mediterrâneo para chegar à Europa em 2015. Pelo menos 2.500 teriam morrido ou desaparecido na travessia.

Segundo a agência, 81% desses 381 mil seriam dos dez países que mais geram fluxo de refugiados, entre os quais se destacam Síria, Afeganistão e Eritreia.


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