Folha de S. Paulo


Milhares de palestinos comparecem ao enterro da mãe do bebê queimado vivo

Abed Omar Qusini/Reuters
Membros das Forças de Segurança Nacionais palestinas carregam caixão de Riham Dawabcheh
Membros das Forças de Segurança Nacionais palestinas carregam caixão de Riham Dawabcheh

Milhares de palestinos caminharam nesta segunda-feira (7) até o cemitério de Duma, na Cisjordânia, para acompanhar o sepultamento de Riham Dawabcheh, que morreu depois de seu filho e do marido em consequência dos ferimentos sofridos em um incêndio atribuído a extremistas judeus.

"Israel, Estado terrorista", gritou a multidão, que exibia bandeiras palestinas e carregou o caixão de Riham Dawabcheh da pequena escola da localidade até o cemitério.

Riham Dawabcheh, que sofreu queimaduras de terceiro grau em 80% de seu corpo, faleceu na madrugada de segunda no hospital Sheba, no subúrbio de Tel Aviv, cinco semanas depois do incêndio de sua casa em Duma.

A vítima, que era professora, havia completado 27 anos no domingo (6). As autoridades palestinas decretaram três dias de luto nacional.

Da família palestina, apenas o pequeno Ahmed, de 4 anos, com queimaduras graves, permanece vivo, hospitalizado em Sheba.

O menino ainda precisa passar por várias cirurgias, segundo uma fonte médica.

Antes de sua mãe, seu irmão de 18 meses, Ali, morreu queimado vivo no incêndio de 31 de julho. O pai, Saad Dawabcheh, de 32 anos, faleceu oito dias depois.

A família dormia quando homens encapuzados jogaram artefatos incendiários pelas janelas da casa, que estavam abertas em consequência do forte calor.

As mensagens escritas na casa pelos criminosos e depoimentos de testemunhas permitiram identificar rapidamente os autores do ataque como extremistas judeus, que possivelmente eram de colônias vizinhas.

As colônias, assentamentos construídos por Israel na Cisjordânia ocupada, são consideradas ilegais pela comunidade internacional.

O caso de Duma provocou indignação e temor na Cisjordânia, onde a convivência entre palestinos e colonos é muito tensa e levou, inclusive, os palestinos a organizar grupos de defesa.

Também deixou em evidência as ações violentas dos extremistas judeus e provocou críticas às autoridades israelenses, acusadas de atuar com mais velocidade contra a violência palestina do que contra a judaica.

Ammar Awad/Reuters
Palestino participa de confronto com forças de Israel após enterro de Riham Dawabcheh
Palestino participa de confronto com forças de Israel após enterro de Riham Dawabcheh

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, reiterou nesta segunda que considera o crime de Duma um "ato terrorista", um termo que geralmente utiliza para os atos palestinos.

Também voltou a expressar condolências aos parentes das vítimas e garantiu que as "forças de segurança fazem todo o possível para deter os agressores e levá-los à Justiça".

Apesar da repercussão do caso, os autores não foram identificados publicamente.

O governo adotou a medida excepcional de autorizar a detenção administrativa de vários extremistas judeus.

Três ativistas foram detidos sob o regime extrajudicial, que permite deter suspeitos sem o indiciamento, por um período ilimitado, e que habitualmente é aplicado aos palestinos. Outros dez estão em prisão domiciliar.


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