Folha de S. Paulo


Sem sanções, crescimento do PIB do Irã dobrará, diz Banco Mundial

A futura suspensão das sanções contra o Irã, resultado do acordo nuclear recentemente negociado com as potências mundiais, terá impacto significativo não apenas sobre as finanças do país, mas para economia global.

A conclusão é de um relatório do Banco Mundial, que prevê que o crescimento do PIB iraniano praticamente dobrará em dois anos, com o fim do isolamento do país.

As conclusões do estudo alimentam o debate sobre a influência dessa prosperidade sobre e Teerã e a região.

Enquanto alguns analistas apostam que ela levará a uma abertura política, outros temem que os líderes iranianos usem o bolso cheio para se eternizar no poder e fortalecer aliados com potencial desestabilizador, como o grupo radical libanês Hizbollah e o ditador sírio Bashar al-Assad.

Segundo as projeções do Banco Mundial, com a normalização de suas exportações de petróleo iraniano e das operações financeiras, o Irã deve acelerar o crescimento anual de sua economia de 3% hoje para até 6% em 2017.

Irã

O impacto no mercado de petróleo será acentuado, com prováveis consequências para a economia mundial. O relatório prevê uma queda de 14% no preço da commodity.

O aumento da produção de petróleo coloca os demais países exportadores entre os perdedores da reintegração do Irã ao mercado.

Mesmo com as quedas de preço provocadas pelo aumento da oferta, o país terá um ganho "palpável", prevê o relatório, com crescimento de bem-estar econômico per capita de 2,8%. O cálculo é que esse ganho virá sobretudo da retomada das exportações de petróleo à Europa.

MUDANÇA DE PERFIL

Um dos autores do relatório, Shantayanan Devarajan, economista-chefe do Banco Mundial para Oriente Médio e Norte da África, observa que o perfil dos parceiros comerciais do Irã mudou em 2012, quando as sanções foram intensificadas. A partir de então, o país deu uma guinada para o Oriente, voltando-se para países como Coreia do Sul, Índia, Rússia e China.

Com o fim das sanções, a tendência deve ser revertida, com reabertura a países que haviam reduzido seu comércio com o Irã, como o Brasil. Em 2000, diz o relatório, o Brasil era responsável por 7% das importações iranianas. Em 2014, a fatia foi de 2%.

O estudo ressalta o efeito doloroso das sanções à economia iraniana, com perdas de US$ 17 bilhões somente nos primeiros dois anos de sua intensificação (2012-14).

Isso foi fundamental para levar o regime à mesa de negociações, diz o economista Uri Dadush, do centro de estudos Carnegie Endowment, onde o relatório foi apresentado. Para ele, a prosperidade terá efeito político.

"Talvez eu seja ingênuo, mas acredito que se a economia do Irã crescer e seus benefícios forem sentidos por famílias e jovens, a política gradualmente mudará", diz.

O especialista em Irã Karim Sadjadpour, também do Carnegie, é mais cético. Ele afirma que embora a linha-dura do regime tenha se beneficiado com o isolamento do país, concentrando poder, isso não significa que seus representantes perderão com o fim das sanções, ao contrário.

"É inevitável que os capangas do governo enriqueçam como resultado do acordo nuclear", afirma. "O que é menos claro é se a população iraniana sentirá uma melhora significativa em sua vida nos próximos anos".


Endereço da página:

Links no texto: