Folha de S. Paulo


Instalação de chuveiros contra calor em Auschwitz desagrada visitantes

O Memorial de Auschwitz-Birkenau, antigo campo de concentração nazista na Polônia durante a Segunda Guerra, tentou tornar menos sofrida a visita de turistas durante o quente verão europeu deste ano.

Para isso, instalou vaporizadores de água na entrada do campo.

A decisão, porém, desagradou a muitos, que dizem que a instalação remete aos "chuveiros" das câmaras de gás onde mais de 1 milhão de judeus foram mortos.

Os meios de comunicação de Israel foram os primeiros a chamar a atenção para o caso.

Reprodução/Twitter/@omegafrequency
Duchas que vaporizam água instaladas na entrada do antigo campo de concentração de Auschwitz
Duchas que vaporizam água instaladas na entrada do antigo campo de concentração de Auschwitz

Segundo o semanário francês "Le Point", o israelense Meir Bulka, 48, após visitar o campo recentemente, disse ao jornal "The Jerusalem Post" que ele e seus compatriotas acharam de "extremo mau gosto" a instalação.

"Para mim, israelense, que perdi tantos parentes no Holocausto, isso se parece muito com as duchas que os judeus deveriam tomar antes de entrar nas câmaras de gás. Alguém chegou até a falar em 'simulacro' do Holocausto."

Bulka foi pedir explicações à administração do memorial.

"Eles disseram que estavam muito chateados de terem me ferido."

"Muitos de nossos visitantes vêm de países onde nãose vê o calor que encontramos neste verão na Polônia. Houve casos de desconforto. Nós tivemos que fazer o nosso melhor para minimizar os riscos e cuidar da saúde dos nossos visitantes", disse um porta-voz do memorial ao diário israelense.

Os aspersores de água devem ser retirados em breve.

A comunidade judia local parece não ter se importado tanto com o assunto, e sugere que ele seja visto com outros olhos.

O rabino Michael Schudrich disse que as temperaturas no local chegaram a 40ºC e que a administração do campo tentou proteger a saúde dos visitantes. Mas ele afirma que a instalação poderia ter sido feita de modo diferente, e em um outro local.

Para Piotr Kadlick, ex-presidente da União das Comunidades Judias da Polônia, os nazistas transformaram "o conceito de ducha -uma fonte de higiene e relaxamento– em puro horror. Nós não devemos seguir tal caminho".

Em defesa do memorial, ele relembra que o gás Zyklon B, usado no campo de concentração, não era liberado por chuveiros.


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