Folha de S. Paulo


Em meio a crise, Colômbia e Venezuela chamam de volta seus embaixadores

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, convocou nesta quinta (27) o embaixador do país na Venezuela para consultas –gesto que, na linguagem diplomática, demonstra alto grau de insatisfação com o país anfitrião. Em resposta, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chamou de volta seu embaixador em Bogotá, horas depois.

As medidas ocorrem em meio a uma crise sobre a fronteira dos dois países.

As chanceleres dos dois países chegaram a se reunir na quarta-feira (26), mas não conseguiram chegar a um acordo sobre a reabertura da fronteira –fechada sob ordem do presidente venezuelano Nicolás Maduro. Elas, contudo, anunciaram que os dois países elaborariam um plano conjunto para a segurança na região de divisa.

O tom das declarações na quinta-feira, contudo, mudou. "Não posso permitir que a Venezuela trate os colombianos e trate o governo colombiano dessa forma", disse Santos.

"Por isso dei instruções à chanceler para que chame para consultas o nosso embaixador na Venezuela e que convoque uma reunião extraordinária de chanceleres da Unasul", completou.

Do lado venezuelano, a chanceler Delcy Rodríguez lamentou que os "avanços" conseguidos na reunião bilateral tenham sido "frustrados" pela "soberba" das autoridades colombianas. ""Revisaremos integralmente as relações com a Colômbia, em razão das agressões que o nosso povo sofre com o paramilitarismo e a guerra econômica", disse, em sua conta no Twitter.

Na última semana, além de fechar a fronteira, Maduro decretou estado de exceção na região de divisa e deportou de 1.000 colombianos que viviam na Venezuela.

Na versão oficial, as medidas seriam uma resposta de Caracas ao ataque que feriu três militares venezuelanos na região, que tem forte presença de contrabandistas, na última quinta (20).

No entanto, entre analistas, as ações de Maduro têm sido interpretadas como manobra política para tentar fortalecer o chavismo antes das eleições parlamentares de 6 de dezembro.

Os dois países dividem uma fronteira terrestre de 2.219 quilômetros que facilita a passagem sem maiores controles, assim como atividades ilegais como contrabando de combustíveis e alimentos.

CAMPANHA DE ÓDIO

Mais cedo, Maduro acusou Santos de mentir e de se deixar enganar pelos que considera realizarem uma campanha de ódio contra o povo venezuelano, e enfatizou que manterá o fechamento da fronteira.

"Presidente Santos, eu te respeito, mas você tem sido enganado, mas acredito que o pior de tudo é que a esta altura você gosta que o enganem, você mentiu publicamente", disse Maduro em um evento televisionado.

"Eu não vou abrir essa fronteira, não vou abrir até que consigamos restituir os direitos humanos do povo de Táchira [cidade na fronteira]. Aspiro que o governo da Colômbia recupere a sensatez", acrescentou.

UNASUL

O pedido de Santos para uma reunião extraordinária de chanceleres da Unasul vem um dia depois de o secretário-geral do bloco, o ex-presidente colombiano Ernesto Samper, tornar pública sua intenção de que a Unasul participe de uma solução para a crise.

"Aos dois [presidentes] manifestei o desejo de a Unasul contribuir para um arranjo bilateral sobre essas diferenças", disse Samper, em nota. Ele destacou, contudo, que o bloco não pode mediar "se não houver um pedido dos dois países envolvidos".

A posição do Brasil, segundo a Folha apurou, é de que, por enquanto, a crise na fronteira entre Venezuela e Colômbia é uma questão bilateral, que deve ser resolvida com diálogo entre os dois países –e não com a intermediação de terceiros países ou da Unasul.

Em rápida passagem pelo Brasil, o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Héctor Timerman, afirmou nesta quinta-feira (27) ver com "preocupação" o atrito entre Venezuela e Colômbia.

Porém, a exemplo do colega brasileiro Mauro Vieira, demonstrou cautela sobre eventual mediação do conflito. "Observamos com preocupação a situação entre ambos os países e como disse o chanceler, estamos à disposição de ambos."


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