Folha de S. Paulo


Economia brasileira preocupa Europa

Apesar da crescente atenção da mídia europeia ao escândalo de corrupção na Petrobras, o debate sobre a situação econômica do Brasil, no continente, tem se sobressaído à crise política em torno da presidente Dilma Rousseff.

No primeiro escalão dos principais governos europeus, o cenário político do Brasil ainda não atingiu um nível elevado de preocupação.

Ueslei Marcelino/Reuters
A chanceler alemã, Angela Merkel, e a presidente Dilma Rousseff durante almoço em Brasília
A chanceler alemã, Angela Merkel, e a presidente Dilma Rousseff durante almoço em Brasília

A volatilidade do termômetro da crise contribui para isso: para quem está longe, Dilma parece à beira da queda numa semana; na outra, está um pouco mais fortalecida.

Nenhum líder europeu, por enquanto, se pronunciou sobre a situação brasileira. Procurado pela reportagem, o governo britânico, por exemplo, não se manifestou.

Durante sua rápida visita a Brasília nesta semana, a chanceler alemã, Angela Merkel, não falou publicamente sobre a instabilidade política no país. Sua presença, com 12 ministros e vice-ministros, contudo, foi usada pelo governo brasileiro como demonstração da confiança alemã.

Questionado pela Folha sobre a crise, o ministro alemão de Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, disse que o Brasil continuará sendo o parceiro mais importante do país na América Latina, "independentemente dos desafios que a política interna brasileira esteja enfrentando".

Para um embaixador europeu no Brasil, o que predomina são as reações exageradas.

"Quando as coisas vão bem, as pessoas ficam eufóricas; quando vão mal, acham que é o fim do mundo", diz. "Somos do Norte, temos uma visão mais fria das coisas."

Na sua opinião, a crise política é um processo saudável: as investigações sobre a corrupção avançam, a presidente deixa que o Judiciário trabalhe e, por isso, as instituições estão se fortalecendo.

CAUTELA

A crise econômica, contudo, gera mais preocupação. "Houve grande impacto nos negócios", afirma o diplomata. Segundo ele, muitos investimentos se concretizaram nos últimos três meses, mas decorreram de decisões tomadas havia três anos.

"Agora, os europeus estão muito cautelosos, resistem a fazer investimentos diretos no país", diz. "Se tiverem de decidir entre Brasil e China, neste momento, obviamente vão investir na China."

Para o cientista político francês Stephane Monclaire, da Sorbonne, as chancelarias europeias estão confusas, sem saber exatamente em que direção vai o Brasil.

"Nos meios diplomáticos, Dilma é vista como um chefe de Estado que tem dificuldades e que não tem um projeto bem claro", diz, destacando que o poder de influência do Brasil, o "soft power", está em queda na Europa.

O pesquisador fala no fim do "encantamento" com o país da época de Lula. A corrupção, com "números assustadores", também passa "uma imagem péssima do Brasil no exterior", diz.

Em seu ranking do poder de influência de 30 países, divulgado em julho, a empresa britânica Portland colocou o Brasil em 23º lugar. "Um aumento na percepção de corrupção torna mais difícil para o país ser influente internacionalmente", diz o criador da escala, Jonathan McClory.

Embora a mídia no Reino Unido tenha destacado a crise política no Brasil, a cautela prevalece.

Em editorial, o "Financial Times" elencou as acusações contra Dilma, mas ressaltou a falta de conclusão dos processos e a ausência de apoio no Congresso para afastar a presidente. O "Guardian" informou seus leitores que o impeachment é "improvável".

Segundo um alto diplomata de um país dos Brics, porém, a crise política já emperra vários projetos. "Roubalheira na Petrobras, descontrole no Congresso, tudo isso não ajuda o país lá fora", diz.

"Há uma percepção de paralisia nas reformas."


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