Folha de S. Paulo


Presidentes de México, Equador e Honduras sofrem com protestos

Em 2012, o presidente do Equador, Rafael Correa, chamou os manifestantes da oposição, até então em algumas centenas, de "quatro gatos pingados". Na época, ele desfrutava de uma popularidade de 58%, que o levaria ao seu terceiro mandato em 2013.

Na quinta (13), porém, os "gatos pingados" somaram ao menos 100 mil em Quito e, com eles, vieram os gritos de "fora". Assim como Dilma Rousseff, Correa é um dos líderes latino-americanos que são alvo de atos pedindo suas saídas.

Pressão nas ruas

As exigências das ruas para que deixem a sede de governo também chegaram aos dirigentes de Honduras, Juan Orlando Hernández, e do México, Enrique Peña Nieto. Em 2014, elas atingiram o venezuelano Nicolás Maduro.

A lua de mel de Correa com o eleitorado começou a acabar em 2014, quando o governo impulsionou emendas constitucionais controversas.

O desejo de Correa de aprovar a eleição indefinida e de dar poder de polícia às Forças Armadas uniu indígenas e sindicalistas, que já protestavam contra as emendas, à classe média e à oposição.

Os adversários do presidente tentaram pedir plebiscitos sobre as emendas, mas seus dois pedidos foram negados pela Justiça. Em março, o partido Democracia Sim fez a primeira solicitação de revogação do mandato.

A solicitação de referendo foi rejeitada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), e a agremiação fez um novo pedido, ainda sob análise.

Para o líder do Democracia Sim, Marcelo Larrea, Correa teme que seus rivais obtenham o 1,5 milhão de assinaturas necessárias para dar início à deposição.

"Ele tem a obrigação de ouvir os manifestantes. Os protestos provam que os equatorianos não querem sacrificar seus direitos democráticos."

Por ora, Correa não dá sinais de que pretenda ceder. Na quinta (13), ele acusou os manifestantes de chantagem.

"Eles estão atentando contra o direito das maiorias ao fechar estradas. O que podemos discutir com pessoas que não respeitam a institucionalidade e a democracia?"

Juan Cevallos - 2.jul.2015/AFP
Policiais fazem barreira para conter manifestação contra Rafael Correa, em Quito, em julho
Policiais fazem barreira para conter manifestação contra Rafael Correa, em Quito, em julho

HONDURAS

Enquanto Correa resiste ao diálogo, Hernández começa a negociar com a oposição em Honduras.

Assim como no Brasil, o detonador dos protestos foi a corrupção.

Hernández é acusado de ser cúmplice no desvio de US$ 335 milhões (R$ 1,16 bilhão) da saúde e de vender ilegalmente terrenos públicos para empresas.

Nenhum dos casos foi investigado.

"Demos este passo [os protestos] porque nós vemos que há muita corrupção, injustiça, roubo e, sobretudo, muita impunidade", disse Miguel Briceño, um dos principais líderes dos Indignados.

Formado nas redes sociais, o grupo também é contra a reeleição aprovada por Hernández. "Nenhum dos nossos presidentes merece novo mandato", afirmou Briceño.

Ele fez parte da comissão que se reuniu com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, que foi ao país para mediar a crise.

DESVIO

No México, o movimento que pede a saída de Enrique Peña Nieto perdeu força, apesar de a popularidade do presidente continuar caindo.

Ele teve seu apogeu em novembro, nos atos contra o desaparecimento dos 43 estudantes da escola normal rural de Ayotzinapa.

José Méndez - 1º.dez.2014/Efe
Multidão marcha na Cidade do México em ato contra o desaparecimento dos 43 estudantes
Multidão marcha na Cidade do México em ato contra o desaparecimento dos 43 estudantes

Em abril, foi lançada a campanha QueSeVaya. A intenção era que, nas eleições legislativas, em junho, o eleitor inserisse uma cédula na urna pedindo a renúncia.

Para o ex-deputado Gerardo Fernández, um dos organizadores, a iniciativa não teve a difusão necessária.

"Precisaremos de outro detonador, porque é perceptível o cansaço das pessoas em relação a este governo", disse.

Na Venezuela, Nicolás Maduro foi ameaçado pelo movimento A Saída, durante os protestos no início de 2014.

A oposição, porém, preferiu lutar pela maioria na Assembleia Nacional nas eleições legislativas de dezembro.

A intenção é que, a partir disso, consigam aprovar o "recall" de Maduro.


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