Folha de S. Paulo


Na eleição Argentina, chuva preocupa governista e vira crítica de oposição

O céu cinza que cobre Buenos Aires e a previsão de chuva na região mais populosa da Argentina se tornou um dos principais assuntos neste domingo (9) de eleições primárias no país.

Os argentinos começam a decidir neste fim de semana quem será o sucessor da presidente Cristina Kirchner, cujo segundo e último mandato termina em dezembro.

Nesta etapa, chamada de Paso (sigla para Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), ficam definidos os candidatos que se enfrentarão no primeiro turno da eleição, em 25 de outubro.

A chuva dos últimos dias alagou algumas cidades da província de Buenos Aires, região que circunda a capital do país, deixando cerca de 1.800 pessoas desalojadas. Foi registrada uma morte, de um menino de 11 anos, na cidade de Pilar.

Nesta região, que não inclui a capital do país, vivem quase 40% dos eleitores argentinos.

A inundação afetou escolas que funcionariam como zonas eleitorais, levando a Justiça a alterar locais de votação em 27 distritos da província de Buenos Aires, muitos dos quais governados por políticos peronistas, aliados do governo.

O governador da província, Daniel Scioli, é candidato a presidente, representando a Frente para a Vitória, agremiação de Cristina Kirchner.

Seus aliados temem que as chuvas e o desagrado com as inundações possam afetar sua eleição.

Um deles, candidato a prefeito na cidade de José C.Paz, Mário Ischii, chegou a sugerir o adiamento das primárias, mas a ideia não prosperou.

Ao votar, neste domingo (9), Scioli atribuiu o problema ao excesso de chuvas, provocado pelas mudanças climáticas, e disse que as águas estavam baixando em algumas localidades. Ele convocou as pessoas a votarem antes que a chuva recomece.

Segundo Scioli, haveria uma tentativa de amplificar o problema, com o intuito de fazer com que as pessoas "votem de mau humor", o que muito provavelmente resultaria em um voto opositor.

Eleições na Argentina

O principal concorrente do governista nestas eleições, Mauricio Macri (PRO), também falou do tema ao votar, na manhã deste domingo (9).

"A mudança climática é uma realidade, mas é preciso se preparar para enfrentá-la", afirmou.

Nos últimos dias, macristas postaram comentários nas redes sociais comparando a situação na província de Buenos Aires, governada por Scioli, com a capital, administrada por Macri, que não sofreu inundações, apesar das chuvas. Segundo eles, Scioli não fez os investimentos necessários para evitar enchentes.

Para o analista político Rosendo Fraga, da consultoria Nueva Mayoria, as enchentes poderão afetar o comparecimento às urnas, mas não diretamente o voto no governista.

"[As inundações] podem afetar a frequência em algumas zonas da província, mas não a uma força política em particular", afirmou.

Patrício Giusto, outro analista político argentino, observa que Scioli enfrentou uma enchente muito pior em 2013, quando mais de 80 pessoas morreram e, ainda assim, não perdeu votos.

"Scioli conseguiu descolar sua imagem da gestão da província de Buenos Aires. Não acredito que essa inundação o afete eleitoralmente", disse.

A consultoria Management & Fit divulgou pesquisa na última quinta (6), mostrando que Scioli com 36,1% das intenções de voto e Macri com 27%.

Estes números apontam para um possível segundo turno entre os dois candidatos. Para encerrar a disputa no primeiro turno, um candidato tem que marcar 40% dos votos e abrir uma vantagem de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado.

A presidente Cristina Kirchner vota em Río Gallegos, capital da província de Santa Cruz, terra natal dos Kirchner. Seu filho, Máximo Kirchner, concorre a deputado federal pela província.


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