Folha de S. Paulo


Chefe da Máfia esconde bilhetes em fazendas para dar ordens a capangas

O número 1 da Cosa Nostra, que está foragido, comunica-se com seus capangas através de mensagens escritas e enterradas em montes de terra ou escondidas sob pedras em fazendas de ovelhas.

E ele entra e sai da Sicília possivelmente devido a uma proteção de alto nível, segundo afirmaram investigadores nesta segunda-feira (3) depois de capturar alguns dos seus supostos cúmplices.

Franco Lannino-Michele Naccari - 13.abr.2006/Efe
Foto de arquvio do líder foragido da Cosa Nostra, Matteo Messina Denaro
Foto de arquvio do líder foragido da Cosa Nostra, Matteo Messina Denaro

Em incursões feitas no início da manhã, na área rural do oeste da Sicília, a polícia deteve 11 homens que, segundo os investigadores, ajudaram o chefe da máfia, Matteo Messina Denaro, condenado à prisão, a exercer o seu poder, apesar de estar foragido desde 1993.

Os investigadores descreveram como Messina Denaro, 53, despreza as telecomunicações e confia em anotações manuscritas, ou "pizzini", para retransmitir ordens.

As anotações eram dobradas de modo compacto, cobertas por fita adesiva e escondidas debaixo de pedras ou enterradas para serem recuperadas por intermediários posteriormente. A ordem era que as mensagens fossem destruídas depois de lidas.

Messina Denaro foi condenado "in absentia" como mentor dos atentados a bomba de 1993 em Roma, Florença e Milão.

Os ataques visavam intimidar os investigadores depois que o "chefe dos chefes", Salvatore Riina, foi preso em Palermo após duas décadas como fugitivo.

Depois da prisão, em 2006, de Bernardo Provenzano, após 43 anos na clandestinidade, Messina Denaro se tornou o mais procurado mandachuva da Máfia.

A polícia usou dispositivos de escuta e câmeras de vídeo escondidas em árvores perto de fazendas para ajudar na descoberta do sistema de entrega de mensagens.

Após mais de dois anos de investigação, o monitoramento de conversas telefônicas grampeadas, feito pela polícia, começou a mostrar um padrão.

A cada vez que um dos supostos assessores de Messina Denaro falava sobre "ovelhas", "fertilizantes" e "ricota", queijo que pode ser feito a partir do leite de ovelha, outros suspeitos logo chegavam às fazendas, de acordo com o jornal italiano "La Repubblica", fazendo menção a um dos investigadores.

Os investigadores finalmente descobriram que essa conversa bucólica era na verdade um código de palavras que indicava a existência de mensagens do ou para o fugitivo.

Entre os presos estava um pastor de ovelhas de 77 anos que, segundo os investigadores, desempenhava um papel fundamental nesse sistema de mensagens.

"Não se deixe enganar pelo fato de eles serem simples camponeses", disse aos jornalistas a promotora Teresa Principato, durante uma coletiva em Palermo.

"Esses homens eram muito leais a Messina Denaro" e "tinham peso dentro da organização".

Principato disse que o fugitivo, às vezes, "sai da Sicília e até da Itália".

Como ele consegue escapar não é algo desconhecido, mas, "depois de tantos anos, e de um trabalho constante e punitivo (de investigação), é evidente que ele goza de alguma proteção muito muito importante".

Rodolfo Ruperti, oficial da polícia de Palermo, disse que Messina Denaro controla a lealdade de mafiosos jovens e idosos com o que o investigador chamou de um "carisma" que estabelece pontes entre as gerações.

Em 2013, a irmã do fugitivo foi presa sob suspeita de realizar esquemas de extorsão para ele.

A infiltração em contratos de obras públicas continua a ser outra das fontes de receita da Máfia siciliana, depois que os mafiosos da continental 'Ndrangheta começaram a dominar o tráfico de cocaína.


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