Folha de S. Paulo


Kerry defende que acordo com o Irã vai tornar o Oriente Médio mais seguro

Brendan Smialowski/Associated Press
Secretário de Estado americano, John Kerry (esq.), conversa com o chanceler egípcio, Sameh Shoukry
Secretário de Estado americano, John Kerry (esq.), conversa com o chanceler egípcio, Sameh Shoukry

O secretário de Estado americano, John Kerry, disse neste domingo (2) que o acordo nuclear assinado entre Irã e potências mundiais no mês passado fará o Egito e a região mais seguros.

"Não pode haver absolutamente nenhuma dúvida de que o plano de Viena, se implementado, fará o Egito e todos os países da região mais seguros", disse, durante uma entrevista coletiva com o chefe da diplomacia egípcia, Sameh Shukri.

"Estados Unidos e Egito reconhecem que o Irã está implicado em atividades desestabilizadoras na região, e por isto é tão importante assegurar que o programa nuclear iraniano continua sendo plenamente pacífico", completou.

Para o chefe da diplomacia americana, o pacto, firmado no dia 14 de julho, também favorece a não proliferação de armas atômicas na região.

Kerry, que começou no Cairo sua primeira viagem desde a assinatura do documento, acrescentou que seu país considerava o Irã como o primeiro país que apoiava o terrorismo e adotou medidas fortes para lutar contra isso.

O representante americano afirmou que Teerã constituía um problema, mas que com este acordo para evitar a proliferação de armas nucleares "a situação vai melhorar muito".

Kerry, que disse que as negociações com Teerã continuarão, voltou a insistir que essa "é uma boa oportunidade para alcançar a estabilidade".

O Egito e outros países temem as ambições regionais do Irã, apesar da Arábia Saudita ter expressado apoio oficial ao acordo.

Kerry se reunirá neste domingo com o presidente egípcio Abdel Fatah al-Sissi no Cairo, antes de viajar a Doha durante a noite.

Na segunda-feira, o americano se encontrará com os colegas do Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Qatar) para tentar dissipar os temores a respeito do acordo sobre o programa nuclear iraniano.

RECADO AO EGITO

O Americano aproveitou a visita para pedir às autoridades egípcias que diferenciem os terroristas dos manifestantes que utilizam meios pacíficos para fazer reivindicações.

Kerry insistiu no "desafio" que significa para o Egito lutar contra o terrorismo e realizar "um processo político inclusivo".

O chefe da diplomacia americana reconheceu que é um "equilíbrio difícil", mas afirmou que o Egito está tentando encontrá-lo e pediu uma "contenção do círculo da violência e do extremismo".

"Os terroristas têm que ser levados à Justiça, mas é preciso distinguir entre os que usam a violência para alcançar seus objetivos e os que utilizam meios pacíficos para expressar sua opinião e querem participar do processo político", ressaltou.

Por isso, Kerry insistiu na importância de se respeitar os direitos humanos e garantir a liberdade de expressão e de imprensa no Egito.

O secretário de Estado afirmou que os Estados Unidos têm algumas preocupações em relação à situação dos direitos humanos no país árabe, mas disse que "apoia absolutamente a guerra contra o terrorismo".

Também expressou o desejo de que as eleições parlamentares, que ainda não têm data para ocorrer, sejam "transparentes" porque são "parte do roteiro para a democracia".

"Temos o mesmo objetivo, que é conseguir um Egito democrático e pacífico", disse Kerry em discurso junto ao colega egípcio, Sameh Shukri.

Depois que os laços bilaterais entre os países se esfriaram após o golpe de Estado de 2013 e a posterior repressão contra a Irmandade Muçulmana, Kerry declarou que as relações estão voltando a "uma base forte".

A relação começou a melhorar em meados de 2014 e, em 31 de março, a Casa Branca anunciou a decisão de suspender o bloqueio da ajuda militar americana ao Egito, vigente desde outubro de 2013, uma assistência que chega a US$ 1,3 bilhão anuais.

Shukri destacou que "não há grandes desacordos" entre Washington e Cairo, apenas diferenças de opinião em alguns assuntos, algo que considerou "natural" e que não afeta a relação bilateral.

Sobre as críticas à repressão das liberdades de imprensa e expressão, o ministro disse que "os jornalistas não estão na prisão por exercerem sua profissão, mas por transgredir as leis e por casos de terrorismo".

Shukri também defendeu os encarceramentos de ativistas e civis por descumprirem a lei de protestos e supostamente participarem de atos violentos.

O secretário de Estado americano e o representante egípcio realizaram neste domingo uma sessão do Diálogo Estratégico bilateral, a primeira desde 2009, com o objetivo de normalizar as relações.

Outros temas abordados foram a luta contra o terrorismo no Oriente Médio e os conflitos em Líbia, Síria, Iraque e Iêmen.

ROTEIRO

Depois da escala em Doha, Kerry visitará Cingapura, Malásia e Vietnã. A Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que se reúne este ano em Kuala Lumpur, é um aliado privilegiado de Washington, em particular ante as ambições regionais da China.


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