As circunstâncias da morte do monge tibetano Tenzin Delek, 65, encarcerado havia 13 anos na China, levaram grupos de defesa dos direitos humanos e da liberação do Tibete a criticar o governo do país e demandar uma investigação independente.
Segundo a agência estatal de notícias Xinhua, Delek foi encontrado com problemas respiratórios em sua cela, em uma prisão na província de Sichuan, e encaminhado ao hospital, onde morreu de parada cardíaca no último dia 12, "apesar de tratamento".
Familiares e apoiadores do monge, por outro lado, acusam as autoridades de tortura, falta de tratamento médico adequado e transparência sobre as circunstâncias da morte.
Partidário do dalai-lama, Delek cumpria prisão perpétua acusado de separatismo e envolvimento em atentados a bomba entre 2000 e 2002 na China. O monge se declarava inocente.
De acordo com informações colhidas com um primo do monge pelo grupo SFT (Students for a Free Tibet), entidade baseada nos EUA, parentes de Delek foram chamados a Chengdu (capital de Sichuan), no início do mês, com a promessa de que poderiam visitar o monge.
Após repetidos adiamentos, segundo o SFT, a família foi surpreendida com a informação da morte de Delek na noite do dia 12 de julho.
Dorjee Tseten, diretor do SFT para a Ásia, disse à Folha que a família teve breve acesso ao corpo do monge, mas não pôde ver o prontuário médico nem conseguiu a liberação do corpo para cumprir os devidos rituais tibetanos.
Segundo Tseten, o monge foi cremado contra a vontade da família, e as cinzas foram entregues a seus apoiadores.
Porém, no caminho para a região tibetana, relatou, as cinzas foram novamente apreendidas pelas autoridades. O SFT também manifestou preocupação pelo desaparecimento de uma irmã e uma sobrinha de Delek, que acompanhavam de perto o caso do monge.
Maya Wang, que integra a divisão de Ásia da HRW (Human Rights Watch), diz que a forma como o governo chinês lidou com todo o caso de Delek foi abusiva, "com ostensivas violações de leis internacionais de direitos humanos e de leis e regulações chinesas".
Por exemplo, afirma, julgamento em segredo e descumprimento da regra nacional que garante adequada investigação de mortes na prisão.
FORÇA TIBETANA
Em um relatório de 2004 sobre a prisão do monge, a HRW afirma que o caso foi "o auge do esforço de uma década, pelas autoridades chinesas, de restringir os esforços de Delek no fomento do budismo tibetano, seu apoio ao dalai-lama como líder religioso e seu trabalho no desenvolvimento de instituições sociais e culturais tibetanas".
Para o grupo SFT, no entanto, a movimentação ocorrida após a morte de Delek demonstra que "os tibetanos são fortes" e que "Pequim tem falhado na tentativa de controlar o Tibete".
No domingo (19), o site do jornal "China Daily" publicou um artigo não assinado sobre Delek com o título "A morte do líder separatista não é digna de lamento".
No texto, o jornal afirma que o julgamento do monge seguiu as leis chinesas e que, antes de ser preso, Delek foi diagnosticado com pressão alta e doença cardíaca.
O jornal também informou que, durante sua prisão, o monge fez 15 visitas a hospitais, mas que ele rejeitou check-ups e tratamentos.
A Folha tentou contato com o departamento de segurança pública de Luding, localidade onde as cinzas do monge teriam sido apreendidas, mas ninguém atendeu ao telefone.
A notícia da morte do monge acontece em meio a uma ampla campanha que deteve mais de 200 advogados e ativistas da área dos direitos humanos nas últimas semanas, na China, informou a HRW.
De acordo com a agência estatal Xinhua, o governo acusa parte dos advogados de atrapalhar a ordem pública e obter benefícios com a contratação ilegal de manifestantes.