Folha de S. Paulo


Ao defender acordo com Irã, Kerry diz que opção melhor é 'fantasia'

Ao defender no Senado americano o acordo assinado com Teerã e outras cinco potências sobre o programa nuclear iraniano, o secretário de Estado John Kerry disse que é uma "fantasia" pensar que se conseguirá um acordo melhor do que o texto de Viena e que, se o Irã não cumprir sua parte, os EUA "saberão".

"A alternativa ao acordo que alcançamos não é o que temos visto em anúncios na TV", disse Kerry em audiência na manhã desta quinta (23) no Comitê de Relações Exteriores do Senado, em referência a opositores que sugerem rejeitar o acordo para seguir pressionando o Irã por mais concessões.

Brendan Smialowski/AFP
Secretários de Estado, John Kerry (dir.), e da Energia, Ernest Moniz, conversam no Senado
Secretários de Estado, John Kerry (dir.), e da Energia, Ernest Moniz, conversam no Senado

"Isso não é um acordo melhor, algum tipo de acordo 'unicórnio' que envolva a completa rendição do Irã. Isso é uma fantasia pura e simples. E nossa comunidade de inteligência pode dizer isso a vocês."

Kerry enfatizou não haver uma terceira via: "Nossas opções são um acordo que assegure que o programa nuclear iraniano será limitado, examinado rigorosamente e totalmente pacífico, ou não ter nenhum acordo".

O secretário de Estado disse ainda que, "gostando ou não", os americanos precisam "aceitar" que o Irã desenvolveu o conhecimento para enriquecer urânio.

"Não podemos atirar bombas contra ou sancionar o conhecimento iraniano sobre o ciclo do combustível nuclear", disse Kerry.

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Ele ainda destacou que se os EUA desistirem do acordo, as outras potências "não seguirão" os americanos.

Também na audiência, o secretário de Energia Ernest Moniz, que é físico nuclear e assessorou Kerry durante as negociações em Viena, defendeu que o acordo tem base científica.

"O Irã estará mais distante da capacidade de [desenvolver] uma bomba nuclear com esse acordo do que sem ele", disse Moniz.

OPOSIÇÃO

Os senadores republicanos foram duros nas críticas ao acordo durante a sessão. O presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, Bob Corker, disse que Kerry foi "enganado" pelo Irã e que o texto aprovado "basicamente codifica a industrialização do programa nuclear" iraniano.

O senador republicano por Idaho Jim Risch, por sua vez, disse que "qualquer um que diga que esse é um bom acordo entra para o ranking de mais ingênuo do mundo".

O texto de Viena vem enfrentando oposição nos EUA, especialmente de grupos coordenados pela oposição e pela comunidade judaica.

Na quarta-feira (22), cerca de 10 mil manifestantes se reuniram na Times Square para protestar contra o acordo.

O grupo pedia ao Congresso para rejeitar o acordo, que prevê a suspensão das sanções a Teerã se o país cumprir sua parte do acordo de restringir seu programa nuclear nos próximos dez anos, incluindo 12 meses sem produzir combustível necessário para uma bomba.


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