Folha de S. Paulo


Por temor a Estado Islâmico, Israel terá cerca na fronteira com Jordânia

Israel decidiu construir uma cerca em sua fronteira sul com o reino da Jordânia, a única até hoje sem barreiras físicas. Com a medida, o país caminha a passos largos para que todos os seus limites terrestres estejam cercados.

A decisão espelha o temor de Israel –e de outros atores regionais– com a propagação do Estado Islâmico (EI) numa região cada vez mais fluida e o desejo de se afastar dos vizinhos em turbulência.

Editoria de Arte/Folhapress

Segundo decisão do governo do premiê Binyamin Netanyahu, a cerca terá 30 km de extensão e cinco metros de altura, partindo da cidade costeira de Eilat até a região do vale de Timna.

Além da barreira física, os israelenses colocarão sistemas modernos de detecção de infratores, radares, câmeras para coleta de informações. A obra custará algo em torno de 2 bilhões de shekels (R$ 1,67 bilhão).

O objetivo inicial seria, segundo a imprensa israelense, cercar os 400 km da fronteira. O projeto, no entanto, não teria sido aprovado por falta de verbas e devido à disputa territorial com os palestinos no vale do rio Jordão.

Israel afirma ter avisado à Jordânia antes de começar a construir a barreira. "Ela não violará a soberania da Jordânia, seus interesses nacionais ou honra", informou o gabinete de Netanyahu.

A construção da nova barreira saiu do papel devido à construção de um aeroporto em Timna, que será iniciada em 2016. Netanyahu disse que a cerca é uma questão de segurança nacional.

"Os beduínos dominam essa área, mas, por razões econômicas que incluem pobreza e desemprego, há o perigo de que o EI consiga se infiltrar entre eles", diz Oded Eran, ex-embaixador de Israel na Jordânia.

A Jordânia é considerada por alguns o próximo alvo da milícia radical. O país abriga hoje 4 milhões de refugiados sírios, que, na visão dos israelenses, poderiam se tornar aliados dos extremistas.

"Como é possível saber se alguns dos refugiados na Jordânia apoiam o EI?", pergunta o cientista político Uri Rosset, da Faculdade Sapir.

As fronteiras de Israel com o Líbano, Síria, Egito, Cisjordânia e Faixa de Gaza já estão separadas por cercas ou muros. A barreira mais recente, na fronteira com o Egito, foi concluída em 2013.

A cerca hoje contém, além dos imigrantes ilegais, extremistas do EI que passaram a atuar na península do Sinai.

"Ainda bem que construímos a cerca na fronteira com o Egito, mesmo que com outro objetivo", afirma Rosset.

ESPERANÇA

Apesar da decisão do governo, moradores do lado israelense têm a esperança de que a cerca na fronteira sul seja temporária. "No longo prazo, nosso desejo é derrubar essa barreira e viver em paz com nossos vizinhos, mas entendemos que, no momento, a realidade é diferente", diz Udi Gat, diretor do Conselho Regional de Eilot (região do Aravá, próxima à cidade de Eilat).

Em 2013, Israel também completou a construção de uma cerca nas colinas de Golã, disputadas com a Síria. O objetivo foi evitar a infiltração de refugiados sírios.

Mas a mais polêmica delas é o chamado "Muro da Cisjordânia" (que os israelenses chamam de "Cerca de Separação"), que começou a ser construída em 2002, no meio da Segunda Intifada Palestina (2000-2005).

Depois do fim da construção, houve forte queda no número de atentados em Israel –de 73 entre 2000 e 2003 para 12 entre 2003 e 2006.

Ao todo, a barreira (que é 90% cerca e apenas 10% muro) teria 700 km de extensão, mas apenas 450 km foram completados até hoje.

Seu trajeto se tornou polêmico quando ficou claro que cerca de 9% dela passaria pelo território palestino.

Em alguns pontos, como em Belém, ela dificulta o ir e vir dos palestinos da Cisjordânia com postos de controle militares.


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