Folha de S. Paulo


Cristina e Evo se queixam de tentativas de desestabilização

Longevidade no cargo e ameaças de golpe de Estado foram os temas tratados pelos presidentes Evo Morales, há nove anos presidente da Bolívia, e Cristina Kirchner, há oito no cargo, em encontro nesta quarta (15), em Buenos Aires.

Em meio à pressão de moradores do departamento de Potosí, que fazem manifestações para reivindicar investimentos governamentais, Evo disse que enfrentou problemas sociais durante seu mandato, mas principalmente políticos.

Ele agradeceu pelo apoio que recebeu da Argentina quando assumiu o governo, em 2006, contra o que afirmou ter sido uma tentativa de golpe de Estado contra seu governo.

Juan Roleri/Xinhua
Os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Argentina, Cristina Kirchner, reunidos em Buenos Aires
Os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Argentina, Cristina Kirchner, reunidos em Buenos Aires

"Nos cinco anos que me antecederam, tivemos cinco presidentes. Imaginem a instabilidade política que havia em nosso país", disse Evo. "Graças ao povo e aos movimentos sociais, estou há nove anos no poder. Mal posso acreditar que cheguei aos nove anos e meio".

Cristina, por sua vez, sugeriu que também sofreu tentativas de desestabilização durante seu mandato.

"Não foi o único que sofreu tentativas... aqui nós sofremos algumas tentativas, mas felizmente lidamos com isso sozinhos até agora, ou sozinha", disse Cristina. "Sempre há tentativas [de desestabilização] contra governos que conquistam grandes melhoras para a população."

Os presidentes se reuniram nesta quarta (15) e assinaram acordos de cooperação bilateral nas áreas de energia, saúde, direitos humanos e segurança.

Nesta sexta (17), eles seguem juntos para Brasília, onde participam da cúpula de chefes de Estado do Mercosul.

ESTÁTUA

A agenda oficial de Evo Morales na Argentina, porém, tinha outro (e polêmico) motivo.

Ao lado de Cristina, o boliviano participou da apresentação da estátua da líder boliviana Juana Azurduy, instalada na praça que fica bem atrás da Casa Rosada.

Com 16 metros de altura e 25 toneladas, a peça de bronze custou US$ 1 milhão e foi um presente do governo da Bolívia à Argentina.

A figura da heroína da resistência contra a colonização espanhola aparece com imagens de crianças e indígenas e carrega uma espada na mão esquerda.

Até o último fim de semana, o homenageado que ocupava o local, que pode ser observado da Casa Rosada, era Cristóvão Colombo. Mas Cristina Kirchner decidiu exilar o descobridor da América.

A estátua de Colombo foi um presente da Itália, entregue em 1910 em agradecimento à recepção da Argentina aos imigrantes europeus.

A crônica política argentina diz que, em 2011, o venezuelano Hugo Chávez teria criticado o monumento, acusando Colombo de liderar um genocídio contra indígenas americanos.

Cristina decidiu retirar a estátua, mas enfrentou resistência do governo da cidade de Buenos Aires (responsável pela praça e pelo monumento) e da comunidade italiana.

Depois de quatro anos e uma ação judicial, Colombo foi levado no último domingo (12) para um local perto do rio da Prata, em frente ao aeroporto da capital, a mais de 10 km da sede de governo e dos olhos da presidente.


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