Folha de S. Paulo


Irã e potências mundiais fecham acordo nuclear em Viena

Após 20 meses de difíceis negociações, o Irã e potências mundiais alcançaram nesta terça-feira (14) em Viena, na Áustria, um acordo histórico para limitar o programa nuclear da República Islâmica em troca do alívio de sanções.

O acordo, buscado como eixo da política externa do presidente americano, Barack Obama, tem como objetivos impedir que o Irã obtenha armas nucleares e evitar outra intervenção militar americana no mundo muçulmano.

O pacto impossibilitará que o Irã produza, por ao menos dez anos, material suficiente para a confecção de uma bomba e impõe novas provisões para inspeções em instalações iranianas, incluindo militares.

O acordo não é "construído na confiança, mas na verificação", declarou Obama na Casa Branca, em um pronunciamento transmitido ao vivo na televisão iraniana.

Já o presidente do Irã, Hassan Rowhani, disse que um "novo capítulo" começou nas relações de seu país com o mundo.

Os dois falaram momentos depois do anúncio formal do chamado Completo Plano de Ação Conjunto, cuja finalização foi alcançada pelo Irã e o grupo chamado G+1 (EUA, Rússia, China, Reino Unido, mais Alemanha) após duas semanas de forte diplomacia marcada por três extensões de seu prazo final.

"Alcançamos um acordo que não é perfeito para ninguém, mas é o que pudemos alcançar, é uma importante conquista para todos nós", disse o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que travou a maior parte do diálogo com Zarif, afirmou que a persistência compensou. "Acredite em mim. Se quiséssemos obter um acordo pior, teríamos terminado essa negociação há muito tempo", afirmou.

PONTOS DO ACORDO

Sob o acordo, sanções impostas pelos EUA, pela União Europeia e pela ONU serão suspensas em troca de o Irã limitar em longo prazo o seu programa nuclear para que não tenha capacidade de construir uma bomba atômica.

O Irã concordou com a continuidade do embargo de armas da ONU sobre o país por até cinco anos. O prazo, porém, poderia terminar antes se a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) verificar que no país persa não há nenhum trabalho com o objetivo de conseguir armas.

Editoria de Arte/Folhapress

Irã

Condição similar foi imposta em relação à restrição da ONU à transferência de tecnologia de mísseis balísticos a Teerã, que poderia durar até oito anos.

Outro ponto significativo permitirá aos inspetores da ONU pressionar por visitas a locais militares do Irã como parte de suas tarefas de monitoramento, algo que o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, sempre prometeu se opor.

Entretanto, o acesso não é garantido e poderia ser adiado, condição que os críticos do acordo certamente apontarão como uma forma de dar a Teerã tempo para encobrir qualquer atividade ilegal.

Embora o Irã sempre tenha negado ter interesse em desenvolver um arsenal atômico, o Ocidente suspeitava que esse fosse o objetivo de seu programa nuclear, iniciado em 2006, e impunha sanções econômicas e militares severas sobre o país.

Segundo o chanceler francês, Laurent Fabius, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) deve endossar o acordo "em questão de dias".

A AIEA disse que deve assinar um plano de ação para resolver questões ainda em disputa até 15 de dezembro.

Irã

Segundo o chanceler iraniano, Mohammed Javad Zarif, que classificou o acordo como um "momento histórico", disse que o pacto "não é compreensivo para todas as partes mas é a melhor conquista possível".

A chefe de política externa da União Europeia, Federica Mogherini, disse que o acordo representa "um sinal de esperança para todo o mundo".

"É uma decisão que pode abrir o caminho para um novo capítulo nas relações internacionais", afirmou Mogherini em Viena.

Por sua vez, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, criticou o acordo por considerar que ele não impede o Irã de construir a bomba nuclear, representando uma ameaça regional aos israelenses.

"O Irã receberá um grande prêmio, uma bonança de centenas de bilhões de dólares, o que lhe permitirá continuar a buscar sua agressão e seu terror na região e no mundo. Este é um péssimo erro de proporções históricas", disse Netanyahu em Jerusalém.


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