Folha de S. Paulo


Carolina do Sul remove bandeira vista como símbolo racista ou de tradição

O Estado norte-americano da Carolina do Sul removeu nesta sexta-feira (10) a bandeira de guerra dos Confederados, hasteada no pátio da sede do governo estadual, depois de três semanas de debate inflamado sobre o significado da bandeira.

Vermelha, cruzada por faixas azul-marinho com estrelas, a bandeira divide opiniões: é vista por muitos como um símbolo de escravidão e racismo; por outros, como símbolo de orgulho e tradição sulista.

Numa cerimônia solene, ainda que alegre, perante uma grande multidão, uma guarda de honra formada por soldados brancos e negros arriou a bandeira logo depois das 10h da manhã (11h no Brasil).

Travis Dove/The New York Times
Polícia da Carolina do Sul remove a bandeira confederada do pátio da sede do governo estadual
Polícia da Carolina do Sul remove a bandeira confederada do pátio da sede do governo estadual

A remoção da bandeira veio pouco mais de três semanas após o massacre de motivação racista de nove fiéis negros que liam a Bíblia no dia 17 de junho, numa igreja histórica frequentada por negros em Charleston.

O novo lar da bandeira será a "sala das relíquias" do museu militar estadual em Columbia, a capital da Carolina do Sul, onde a bandeira será exposta ao lado de outros artefatos usados por soldados confederados do sul dos Estados Unidos na Guerra Civil, há um século e meio.

Nikki Haley, a governadora republicana da Carolina do Sul, foi quem exigiu do Legislativo a aprovação de uma lei que permitisse remover a bandeira. Ela estava entre os que assistiram à remoção.

Antes, ela disse em entrevista à TV NBC que era um grande dia para o Estado. "Estou pensando naquelas nove pessoas hoje", disse Haley, referindo-se aos nove homens e mulheres mortos na Igreja Episcopal Metodista Africana de Charleston.

Também assistiu à cerimônia o prefeito de Charleston, Joe Riley, que em 2000 liderou uma marcha de 190 quilômetros de sua cidade até a capital da Carolina do Sul para protestar contra a bandeira.

"Hoje, finalmente, isso foi feito", ele declarou.

O homem branco acusado pelos assassinatos, Dylann Rood, 21, tirou fotos posando com uma bandeira confederada, publicadas em um site que trazia um manifesto racista. A imagem irritou políticos e fez com que comerciantes tirassem a bandeira de suas vitrines.

Na Carolina do Sul, o primeiro Estado a se rebelar contra o Norte do país durante a Guerra Civil ocorrida nos Estados Unidos entre 1861 e 1865, o debate no Legislativo estadual trouxe um fim emotivo a um símbolo que há muito dividia opiniões.

A bandeira confederada foi hasteada no topo da sede do Legislativo estadual entre 1961 e 2000, quando foi transferida para um memorial confederado próximo à entrada da sede do governo estadual.

"Meu coração está em festa. Posso sentir a união", disse Tenetha Hall, de Newberry, na Carolina do Sul, que tirou o dia de folga para dirigir uma hora até Columbia para assistir à cerimônia. "Estou muito feliz por meus filhos e seis netos terem a chance de ver a história acontecendo".

Bobby Dawson, que participa de encenações da Guerra Civil, ficou em silêncio usando o tradicional uniforme confederado, com calças de lã cinza, camisa de punhos longos e o casaco de lã do Regimento 101 do Exército Confederado, na Carolina do Sul. Ele disse que teve um antepassado que lutou dos dois lados da Guerra Civil.

"Isto traz alegria a algumas pessoas e é uma ocasião solene para outros", disse Dawson.


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