Folha de S. Paulo


EUA advertem que negociação nuclear com Irã ainda pode fracassar

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse neste domingo (5) que "escolhas difíceis" terão que ser feitas nos próximos dois dias para que as seis potências negociadoras e Teerã cheguem a um acordo sobre o programa nuclear iraniano até a terça (7).

Se não perceber disposição do outro lado, os EUA estão prontos a "abandonar a mesa", afirmou Kerry.

Reuters
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o chanceler iraniano, Javad Zarif, reunidos em Viena na última terça (30)
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o chanceler iraniano, Javad Zarif, durante reunião

"Nos últimos dias, fizemos, de fato, um progresso genuíno, mas quero ser bem claro com todos: ainda não chegamos aonde deveríamos em muitos dos pontos mais críticos", disse, após reunião de três horas e meia com o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, em Viena (Áustria).

Kerry disse concordar com Zarif que os dois lados "nunca estiveram tão próximos", mas destacou que, neste momento, a negociação ainda pode desandar. "Se as escolhas difíceis forem feitas nos próximos dois dias, e rapidamente, podemos ter um acordo já nesta semana. Se não forem, não teremos."

Horas depois, Zarif afirmou a jornalistas que as partes ainda têm "algumas diferenças" sobre os termos do acordo. "Estamos tentando e trabalhando muito [nisso]", disse.

Kerry enviara mais cedo uma mensagem aos iranianos dizendo que o governo dos EUA quer "um bom acordo" -ou deixará a negociação.

"Se houver intransigência absoluta e falta de vontade de seguir em frente em coisas que são importantes para nós, o presidente (Barack) Obama sempre disse que estamos preparados para abandonar a mesa", afirmou.

"Nós queremos um bom acordo, e apenas um bom acordo. Não vamos aparar nenhuma aresta só para conseguir um acordo", completou.

Os termos vêm sendo discutidos há 20 meses pelo Irã e o chamado P5+1 (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) e o prazo para um texto final era 30 de junho.

No dia em que o acordo deveria ser apresentado, contudo, as partes prorrogaram as negociações por mais uma semana. O novo prazo termina nesta terça (7).

CONVERSAS

Entre a noite de domingo e a manhã desta segunda (6), chegariam a Viena os outros chanceleres do P5+1 para se unirem a Kerry e Zarif -que têm mantido reuniões quase diárias desde 27 de junho.

No sábado (4), a Associated Press publicou que as partes tinham chegado a um acordo provisório a suspensão das sanções a Teerã. O texto estipula quais sanções devem terminar e quando.

Alguns embargos americanos, contudo, devem continuar. Eles dizem respeito ao investimento iraniano em mísseis balísticos, a violações de direitos humanos e ao apoio do Irã a organizações consideradas terroristas pelos EUA.

Em abril, o Irã e as seis potências tinham anunciado um acordo parcial, que já previa restrições ao programa nuclear iraniano e a retirada de sanções pelas potências.

Segundo ele, o país não poderá enriquecer urânio a um nível acima de 3,67% (utilizado para produzir energia) por pelo menos 15 anos. Para a fabricação de uma bomba atômica, o necessário é 90%.
Teerã também concordou em reduzir seu número de centrífugas nucleares em 67%


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