Folha de S. Paulo


Em bairro batizado como Néstor Kirchner, ruas são de terra e falta gás

Delia Campero e María (que não quis dizer seu sobrenome) moram na última rua com gás encanado do bairro Néstor Kirchner, na periferia de Río Gallegos. María, dona de um quiosque, disse que precisou investir o próprio dinheiro para "puxar" a água encanada da casa ao lado.

"O problema agora é o transformador [da rede elétrica]. É o único do bairro e ameaça queimar com o maior consumo no inverno", diz a comerciante. Além do gás, os aparelhos elétricos ajudam a enfrentar temperaturas abaixo de zero do inverno na província de Santa Cruz.

Mariana Carneiro/Folhapress
Placa na entrada do bairro Néstor Kirchner (província de Santa Cruz), antigo Los Lolos
Placa na entrada do bairro Néstor Kirchner (província de Santa Cruz), antigo Los Lolos

Para chegar ao bairro que leva o nome do ex-presidente, é preciso passar por uma estrada de terra esburacada, com lixo dos dois lados. Ao fundo, barracos de madeira e de alvenaria ocupam irregularmente uma nova área.

"Eles não têm gás e puxam a luz dos postes da prefeitura. Não sei como passam o inverno", diz María.

O bairro, chamado pelos moradores de Los Lolos, foi rebatizado com o nome de Néstor em 2011, um ano depois de sua morte.

"Os moradores preferem Los Lolos. Dizem que ele [Néstor] não fez nada pelas pessoas que moram aqui", conta Delia, que migrou há três anos da província de Salta, no norte do país, para o sul argentino em busca de emprego. María também é de Salta. As duas se queixam da discriminação e do frio que encontraram em Santa Cruz.

Sem emprego e com uma filha de dois anos e meio, Delia não recebe o benefício estatal Asignación Universal por Hijo, versão do Bolsa Família na Argentina. "Não sei como fazer isso. Será que eu tenho direito?", pergunta.

María diz que existe um benefício do governo para comprar gás, mas ainda assim reclama do preço: diz que é caro e subiu há poucos dias. A inflação, ao redor de 30%, incomoda as vizinhas saltenhas, que se sentem à margem da política nacional. "Não entendo nada de política, mas acho que vou votar em [Sergio] Massa", diz Delia, referindo-se ao peronista dissidente que concorre à Presidência pela Frente Renovadora.

Santa Cruz tem cerca de 1% da população do país e 0,7% do eleitorado. Está longe de definir uma eleição nacional. Mesmo assim, saíram dali os dois últimos presidentes da Argentina.

Neste momento, porém, o clima na capital da província é de insatisfação com a política. Os peronistas, acossados pela greve dos servidores, ainda não apresentaram seu candidato à Prefeitura da capital, a menos de quatro meses para a eleição. Os opositores se organizam discretamente.

"O contexto político na cidade não está servindo a ninguém. A indignação é com toda a classe política", admite Roberto Toledo, secretário de governo da cidade.


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