Folha de S. Paulo


Jerusalém deve ser a única e indivisível capital de Israel, afirma seu prefeito

"Qualquer que seja o conflito ou problema em que se pense, nós o temos aqui", resume Nir Barkat, 55, o prefeito de Jerusalém, que tomou posse em 2008 e está agora em seu segundo mandato.

Apresentado como "super-homem" em caricaturas na mídia local após ter rendido um terrorista com as próprias mãos em fevereiro, Barkat enfrenta um desafio e tanto.

A população da cidade (820 mil pessoas), fragmentada por crenças e costumes, é formada por árabes, cristãos e judeus de diferentes correntes e ocupa, em alguns casos, diferentes vizinhanças; em outras, mistura-se, harmoniosamente ou não.

O prefeito ressalta que, apesar da polêmica imagem internacional de Jerusalém, a taxa de homicídios na cidade é de 1 por 100 mil habitantes, equivalente a 1/22 da do Brasil –ele citou o número brasileiro na entrevista à Folha, após procurar a informação na internet.

A reunificação da cidade, politicamente ocorrida após a guerra de 1967, ainda não se concretizou na prática. Mesmo assim, para Barkat, Jerusalém tem de ser a única e indivisível capital de Israel (o status de capital não é reconhecido internacionalmente).

"Não existe exemplo de cidade que tenha se dividido e dado certo. Essa solução não funciona. Então, por que cogitar implantá-la?", afirmou.

Homem de negócios –de família de classe média, enriqueceu no segmento high-tech nos anos 90–, o prefeito defende que os problemas de Jerusalém não estão ligados à política ou à diversidade étnica, e sim à economia.

Das famílias hierosolimitas, 35% vivem abaixo da linha de pobreza. O número é puxado por Jerusalém Oriental, onde 75% da população é formada por famílias pobres.

Essa área é afetada em especial pelas complicadas políticas de construção locais, que estão no centro do conflito israelo-palestino.

DIVERSIDADE

Barkat diz estar investindo na qualidade da educação pública, que segundo ele foi negligenciada nos mandatos anteriores, e em turismo: hoje Jerusalém recebe 4 milhões de turistas por ano e sonha em chegar aos 10 milhões.

O prefeito afirma que seu objetivo é promover o crescimento usando a mão de obra local. "Não há cidade no mundo com a diversidade de Jerusalém. Afinal, quando o rei Davi a ergueu, abriu-a para todas as tribos. No fim das contas, todas elas querem as mesmas coisas: boas escolas, qualidade de vida, emprego."

O investimento em cultura é outra frente forte de seu governo, que organiza eventos internacionais como a Maratona de Jerusalém e, recentemente, o Festival de Ópera.

Sua gestão, diz Barkat, também investe no estabelecimento de start-ups –120 no último ano. O prefeito alega que o "ecossistema" de Jerusalém é propício a essas empresas: "Nossas universidades trazem novos empreendedores e nós os mantemos aqui, oferecendo isenção de impostos e outros benefícios".

De acordo com Barkat, Jerusalém é a cidade que mais cresce em Israel, a uma taxa de 10% ao ano. A taxa de evasão foi revertida e hoje, de cada 13 mil cidadãos que chegam, 6.000 permanecem.

O conflito de interesses de hierosolimitas israelenses e palestinos ainda está, porém, longe de ser equacionado.

Barkat não exibe em público pretensões de ascensão política, embora seu nome seja sempre cotado. "Estou feliz com o papel de prefeito, não tenho outros planos."


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