Folha de S. Paulo


Revista alemã 'Der Spiegel' diz ter sido espionada pelos EUA

A revista alemã "Der Spiegel" apresentou uma denúncia à procuradoria federal do país por suspeitar ter sido espionada pelos serviços secretos dos Estados Unidos, informou a publicação nesta sexta-feira (3).

A acusação baseia-se em pesquisas da "Der Spiegel" sobre a existência de documentos da Inteligência americana, que supostamente evidenciam o monitoramento das comunicações entre jornalistas da revista e autoridades alemãs de alto-escalão.

O episódio da "Der Spiegel" é estudado também por uma comissão do Parlamento alemão que investiga as operações do serviço secreto americano no país.

Marcus Brandt-27.ago.2014/Efe
Foto de arquivo mostra a sede da redação da revista alemã
Foto de arquivo mostra a sede da redação da revista alemã "Der Spiegel", em Hamburgo

ENTENDA O CASO

Em 2011, a CIA teria advertido ao coordenador-geral dos serviços secretos da Chancelaria alemã, Günter Heiss, que seu coordenador-adjunto, Hans Josef Vorbeck, teria vazado informações confidenciais a jornalistas da "Der Spiegel".

Para a revista, a ciência da CIA sobre essas comunicações seria uma evidência de que os EUA teriam monitorado tanto a imprensa quanto as autoridades da Alemanha.

Segundo a "Der Spiegel", Heiss confirmou que um funcionário da CIA o havia informado sobre os vazamentos de seu colega, mas alegou que as informações não eram "concretas o suficiente" para que alguma atitude fosse tomada.

À época, Heiss não informou o governo alemão sobre a suposta espionagem americana, a qual representaria uma violação às leis do país. A única atitude tomada foi afastar Vorbeck de seu cargo e transferi-lo para setores menos importantes da Chancelaria.

Segundo a rede americana CNN, fontes do governo dos EUA afirmaram que a Inteligência do país tomou conhecimento das informações vazadas à "Der Spiegel" e decidiu intervir porque elas poderiam prejudicar os interesses do país.

Ao reportar a situação nesta sexta-feira, a "Der Spiegel" acusou o governo da chanceler alemã, Angela Merkel, de "fazer piada do Estado de Direito".

"Com mais detalhes surgindo, fica cada vez mais claro que representantes do governo alemão, na melhor das hipóteses, fizeram vista grossa às violações cometidas pelos americanos, e, na pior das hipóteses, apoiaram-nas."

ESPIONAGEM EM MASSA

As suspeitas de espionagem sobre a "Der Spiegel" alimentam o escândalo de monitoramento de comunicações pela Inteligência dos EUA, trazido à tona em 2013 por Edward Snowden, ex-funcionário da NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA).

Na época, tornou-se público que os EUA haviam espionado centenas de civis estrangeiros, bem como autoridades e chefes de Estado incluindo Mekel e a presidente brasileira, Dilma Rousseff.

Reprodução
O ex-funcionário da NSA, Edward Snowden
O ex-funcionário da NSA, Edward Snowden

Na semana passada, os meios de comunicação franceses revelaram que os EUA espionaram, entre 2006 e 2012, os três presidentes franceses que se sucederam nesse período: Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande.

Se for confirmado, o caso "Der Spiegel" demonstra que a espionagem americana atingiu não apenas as autoridades, mas também a liberdade de imprensa em outros países.

Os meios de comunicação americanos já teriam sido alvo de espionagem. Em maio de 2013, foi revelado que a administração do presidente americano Barack Obama teria grampeado telefonemas de ao menos cem jornalistas da agência americana Associated Press (AP).

O objetivo da espionagem seria identificar a fonte de uma reportagem da AP de maio de 2012 sobre um um plano da rede terrorista Al Qaeda no Iêmen para explodir um avião com destino aos EUA.

"A liberdade de imprensa é constitucional não somente nos EUA, mas também na Alemanha. No entanto, uma imprensa que tema a vigilância sobre suas pesquisas não é mais uma imprensa livre", disse à CNN um jornalista alemão que pediu anonimato. "O caso [da espionagem sobre a 'Der Spiegel'] ameaça toda a ideia de um controle independente do governo pelo público."


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