Folha de S. Paulo


Feriado do 4 de Julho é termômetro para estreias no cinema americano

John Adams, um dos pais fundadores dos EUA, escreveu para sua mulher, Abigail, prevendo que a proclamação da Independência, em 4 de julho de 1776, se tornaria "a época mais memorável na história da América" e seria celebrada com pompa e desfiles, shows, esportes, armas, sinos, fogueiras e luzes.

Mais de cem anos antes da primeira exibição de um filme, Adams não poderia prever um item que virou tradição do feriado: o cinema.

Há 40 anos, quando "Tubarão" –que se passa em um feriado de 4 de Julho–, de Steven Spielberg, estreou em 20 de junho e dominou a cultura pop, a indústria percebeu que a época poderia ser explorada para lançamentos milionários.

Hoje, com a disputa entre os blockbusters, o "verão americano" está começando até no fim de abril, uma forma de aumentar a janela de lucro. Mas o Dia da Independência ainda é o termômetro desse período, o mais importante para o cinema pipoca.

É bom notar, contudo, que o dia exato das comemorações não vive só de cinema.

O feriado de 4 de Julho é comemorado com churrascos, desfiles e fogos de artifício à noite –algo tão especial como não se vê nem na virada do ano.

Curiosidades sobre o 4 de Julho; Crédito Editoria de Arte/Folhapress

Neste 4 de Julho, "O Exterminador do Futuro: Gênesis" tenta resgatar a franquia pós-apocalíptica com Schwarzenegger, contra os galãs strippers de "Magic Mike XXL", continuação do sucesso de 2012 com Channing Tatum.

E robôs são a grande atração do feriado. "Transformers: O Lado Oculto da Lua", foi a melhor estreia em um 4 de Julho, há quatro anos, quando rendeu US$ 98 milhões no período.

O feriadão já foi palco de "Homem Aranha 2" (2004) e outros filmes que renderam mais de US$ 500 milhões ao fim de suas carreiras. Mas nada melhor para Hollywood que juntar o útil (patriotismo) ao agradável (aventura).

O cineasta alemão Roland Emmerich sabe bem disso. Em 3 de julho de 1996, ele lançou "Independence Day", que custou US$ 75 milhões e rendeu dez vezes mais. O longa usou a data também na trama: a resistência humana expulsa extraterrestres exploradores no Dia da Independência americana.

Se a metáfora não foi suficiente, o diretor decidiu ser mais direto em "O Patriota" (2000). Chamou Mel Gibson para viver um veterano que entra na Revolução Americana contra ingleses, em 1776.

A fórmula apelativa não funcionou naquele ano. O épico foi massacrado por historiadores e perdeu para "Mar em Fúria".

Mas o cinema americano não parece muito interessado nos pais fundadores e na história da independência. "1776" (1972) é um dos poucos focados no tema.

A grande maioria usa a Revolução Americana como pano de fundo. "Revolução" (1985), de Hugh Hudson, sobre um vendedor de peles envolvido na guerra, foi um desastre tão retumbante que fez Al Pacino, seu protagonista, dar um tempo na carreira.

Em "Rocky" (1976), Apollo Creed (Carl Weathers) encara o azarão Rocky Balboa (Sylvester Stallone) usando uma fantasia de George Washington, primeiro presidente americano.

O roteiro de Stallone soube explorar a simobologia de Davi (americanos) contra Golias (britânicos).

Será que o segundo "Independence Day", batizado de "Resurgence" e previsto para junho de 2016, fará o mesmo? Ninguém torce mais para isso do que seu diretor, Roland Emmerich, que ainda não emplacou nenhum sucesso nesta década.


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