Folha de S. Paulo


Opinião

Mundo muçulmano deve se mobilizar contra o Estado Islâmico

Os recentes atentados terroristas perpetrados no Kuwait, Tunísia e França deveriam convocar um esforço internacional para uma aguda reflexão de como inverter o curso de derrota dos valores democráticos e civilizacionais.

No fundo, o confronto com a facção radical Estado Islâmico (EI) ultrapassou o limiar do confronto armado. Hoje, sobretudo, trata-se de uma batalha de ideias.

Combater esse grupo no campo militar será complexo e requer um esforço coordenado com o envolvimento sério de vários países. Somente uma coalização militar internacional e um trabalho coordenado poderá levar ao aniquilamento dessa chaga.

Contudo, o fator visceral nessa equação toda é a disseminação de uma filosofia intolerante, radical e bárbara no interior de vários países muçulmanos e ocidentais.

Suas ideias estão se enraizando e se proliferando de forma acelerada e desmedida. Os seus dogmas são assimilados, internalizados e abraçados facilmente por jovens de Bagdá a Paris e de Túnis a Beirute. Não é mais necessário ir à Síria ou ao Iraque para passar por uma lavagem cerebral e converter-se num assassino do EI. O processo de convencimento está ocorrendo via mídias sociais, via recrutadores locais que pertencem ao arcabouço social local ou por meio de discursos extremistas nas mesquitas ou instituições sociais.

O mundo muçulmano, sobretudo, precisa assumir a sua responsabilidade. O seu silêncio e sua omissão corroboram com a propagação dessa face inverídica do islã. Por isso, faz-se necessário a implementação de um plano de ação contra-atacando as turvas ideias e a filosofia sanguinária do EI, nas escolas, nas mesquitas, nas mídias sociais e nas televisões.

Estado Islâmico

Numa perspectiva comparativa, essa organização criminosa e terrorista não possui legitimidade sobre o islamismo e tampouco se instituiu de forma ornamentada por qualquer viés legal. O desrespeito aos ditames do direito internacional e dos direitos humanos são dignos de se comparar o genocídio nazista.

Se os países que compõem o mundo muçulmano não tomarem as devidas medidas, esse grupo tenderá a se enraizar cada vez mais fundo no âmago dessas sociedades. O nível elevado de corrupção política, de vulnerabilidade das instituições estatais e o latente nível de clivagem sociorreligiosa estão facilitando a propagação da turva filosofia do EI.

Clérigos, intelectuais, empresários e ativistas sociais deveriam encampar essa luta pelo que é o verdadeiro islã —paz, tolerância e respeito— e confortar o problema em sua raiz. É necessário impedir que a filosofia dos criminosos se sobreponha aos valores civilizacionais.

HUSSEIN KALOUT é cientista político e pesquisador da Universidade Harvard.

Editoria Arte


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