Folha de S. Paulo


Atirador da Tunísia treinou com terroristas de museu, diz governo

Saif Rezgui, 23, o atirador que matou 38 pessoas em um ataque terrorista na semana passada, na Tunísia, foi treinado na Líbia, de acordo com as informações divulgadas na terça-feira (30) pelas autoridades tunisianas.

Rezgui atirou contra turistas no balneário de Sousse, ao sul da capital, na sexta-feira (26). Segundo relatos, ele escondeu seu rifle em um guarda-sol. Nascido no interior tunisiano, esse jovem estudava engenharia na cidade conservadora de Kairouan.

De acordo com o governo local, Rezgui foi treinado na Líbia durante o mesmo período em que treinaram, ali, os responsáveis pelo atentado ao Museu do Bardo –em que 21 morreram, em março. O jovem teve, assim, contato com militantes por meio dessa problemática fronteira.

A Líbia, em grave crise política, tornou-se um terreno fértil para facções radicais, incluindo militantes ligados ao Estado Islâmico, entidade que controla um extenso território entre Síria e Iraque.

A informação de que o atirador de Sousse treinou ali, ao mesmo tempo que os atiradores do Museu do Bardo, confirma os temores de que o caos no país vizinho age como fator desestabilizador na Tunísia, o que aumenta os temores de novos ataques.

A notícia confirma também a versão corrente entre moradores locais de que o terrorismo é uma "importação" no país.

"Esses extremistas são todos líbios e sauditas e querem destruir o governo", diz à Folha Faisal Oueslati, 52, dono de uma loja de móveis. A Arábia Saudita é criticada por difundir sua interpretação rígida do islã, chamada wahabismo.

IMPACTO

O treinamento de Rezgui ocorreu em um campo próximo a Sabratha, oeste líbio. Ambos os atiradores do Museu do Bardo estavam ali.

Rezgui foi morto pelas forças de segurança após o ataque. As autoridades tunisianas detiveram, na segunda-feira, um grupo de suspeitos de ter auxiliado o atirador. Seu celular e computador foram confiscados também pela polícia. Seus pais foram brevemente detidos.

O atentado ao balneário de Sousse foi o pior na história da Tunísia, e deve ter um impacto severo no turismo. A praia, nos últimos dias, estava vazia de visitantes. Relatos davam conta que hotéis -diante do cancelamento de pacotes- já demitiam funcionários, preventivamente.

O Ministério do Turismo estimou, assim, que essa indústria vital à economia tunisiana deve perder US$ 500 milhões durante este ano.

Em uma medida anunciada após o atentado, o governo irá armar sua polícia turística pela primeira vez. As novas diretrizes de segurança devem ser implementadas a partir da quarta-feira (1º).

As autoridades tunisianas irão também agir contra as mesquitas consideradas irregulares, do ponto de vista do governo. Oitenta delas devem ser afetadas, por pregar uma versão do islã considerada como radical demais.

Em visita à periferia de Sousse, a Folha encontrou um imã (líder religioso) que havia sido retirado de seu posto, em uma mesquita -mas, como ainda participa das rezas e têm influência sob os fiéis, ali, ele indicava que a medida tem pouco impacto real nesse sentido.


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