Folha de S. Paulo


Para analistas, EI vem de desastre na política dos EUA no Oriente Médio

A organização terrorista Estado Islâmico, que assumiu a autoria dos ataques desta sexta (26) na Tunísia e no Kuait, celebra na semana que vem seu primeiro aniversário como quem esconde a idade.

Sua estrutura remonta ao menos a 1999, quando o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi fundou o seu Tawhid wa al-Jihad –que transformou-se em diversas formações até se tornar a atual milícia.

Bechir Taieb/AFP
Salva-vidas e médicos levam corpo de turista morto no ataque à cidade de Sousse, na Tunísia, na sexta
Salva-vidas e médicos levam corpo de turista morto no ataque à cidade de Sousse, na Tunísia, na sexta

Essa contextualização é essencial para combater a ameaça de seus militantes, afirmam analistas, em vez de considerá-los como um fenômeno recente e inesperado.

"Faz parecer que os árabes, quando pressionados, se dividem em unidades naturais de acordo com suas facções", diz o cientista político Karim Makdisi, da Universidade Americana de Beirute.

Estado Islâmico

Ele critica a narrativa que compreende o Oriente Médio como uma região dividida entre religiões, constantemente em conflito –o que contradiz, segundo Makdisi, séculos de boa convivência.

O Estado Islâmico é, afinal, resultado de décadas desastrosas de política regional, incluindo o apoio ao regime iraquiano de Saddam Hussein e a invasão americana de 2003.

De acordo com Yezid Sayigh, analista do Carnegie Endowment for International Peace em Beirute, as reações internacionais inadequadas em relação ao EI são influenciadas pela visão de que essa organização é "uma criatura estranha e monstruosa".

Antes disso, essa milícia é para Sayigh uma reconstrução do modelo instituído por Saddam Hussein, morto em 2006. A liderança terrorista repete a estratégia de "utilizar o terror para construir o Estado e, ao mesmo tempo, oferecer serviços públicos".

Segundo o analista, o governo Obama fez só "o mínimo necessário", e essa não é uma crise que pode ser solucionada pela via militar: é necessário reconstruir o Estado iraquiano. "A razão do sucesso dessa organização é o fracasso do governo local. O Exército desmoronou", diz.

Para Rick Brennan, que assessorou o Exército americano no Iraque entre 2006 e 2011, é sim necessária uma intensificação dos esforços militares, já que a política atual levou a um "empate estratégico", com retrocessos e avanços territoriais do EI.

Os bombardeios da coalizão contra a milícia, diz, estão restritos pelas regras de combate americanas, tendo em vista evitar a morte de civis. "Há um efeito perverso, porque dessa maneira o EI se expande e mata mais civis", afirma ele.


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