Folha de S. Paulo


Leia nota de Jim Obergefell, cuja ação levou EUA a aceitarem casamento gay

A Casa Branca distribuiu nesta sexta (26), por e-mail, uma nota de Jim Obergefell, o ativista cuja ação para validar o casamento entre pessoas do mesmo sexo em Ohio chegou à Suprema Corte e levou à histórica decisão que legaliza a união gay em todo o território americano.

Alex Wong/AFP
Jim Obergefell segura uma foto do marido morto, John Arthur, diante da Suprema Corte, em Washington
Jim Obergefell segura uma foto do marido morto, John Arthur, diante da Suprema Corte, em Washington

Obergefell (pronuncia-se Óbergúfell) casou-se com John Arthur em 2013, após mais de 20 anos de relacionamento, dentro de um avião no aeroporto de Baltimore. Arthur, que tinha esclerose lateral amiotrófica (ELA), morreu três meses depois. O ativista queria que o Estado de Ohio, onde os dois viviam, colocasse seu nome como "cônjuge" no atestado de óbito do marido. Mas Ohio proibia o casamento gay, e Obergefell entrou na Justiça.

Após a decisão da Suprema Corte que leva seu nome, o ativista recebeu um telefonema do presidente Barack Obama, que o chamou de "exemplo para todas as pessoas" e se disse orgulhoso.

Leia a seguir a íntegra da nota do ativista após a decisão:

"Meu marido, John, morreu há 20 meses, então não podemos celebrar juntos a decisão da Suprema Corte sobre o caso que leva meu nome, Obergefell versus Hodges.

Hoje, pela primeira vez, qualquer casal –hétero, lésbico, gay, bissexual, transgênero– poderá conseguir uma licença de casamento e tornar seu compromisso público e legal em todos os 50 Estados dos EUA. Os EUA deram mais um passo em direção à promessa de igualdade sacramentada em nossa Constituição, e eu me sinto humildemente honrado em ser parte disso.

John e eu começamos nossa luta por uma razão simples: queríamos que o Estado de Ohio reconhecesse nosso casamento legal em Maryland no iminente atestado de óbito de John. Queríamos respeito e dignidade para nosso relacionamento de 20 anos, e, enquanto morria de esclerose lateral amiotrófica, John tinha o direito de saber que seu último registro oficial como pessoa seria feito corretamente. Queríamos fazer valer a promessa que fizemos de amar, honrar e proteger um ao outro como um casal comprometido e legalmente casado.

Casais pelos EUA podem agora se casar e ter seu matrimônio reconhecido e respeitado independentemente do Estado em que vivam. Ninguém mais ficará sabendo no momento mais doloroso da vida de casado –a morte do cônjuge– que seu casamento legal vai ser desconsiderado pelo Estado. Nenhum casal casado que se mudar se tornará, abruptamente, duas pessoas solteiras porque seu Estado ignora a legalidade de seu casamento.

Ethan e Andrew podem se casar em Cincinnati em vez de serem forçados a viajar para outro Estado.

Uma menina chamada Ruby agora pode ter em sua certidão de nascimento o nome de suas mães, Kelly e Kelly.

Pam e Nicole nunca mais temerão pelas vidas de Grayden e Orion em caso de emergência médica porque, no meio do pânico, elas poderiam se esquecer dos documentos que provam que as duas mães têm o direito de autorizar os devidos tratamentos.

Cooper pode crescer e se tornar um homem sabendo que Joe e Rob são seus pais, em todos os sentidos emocionais e legais.

Eu posso finalmente relaxar sabendo que o Estado de Ohio não poderá, nunca, apagar nosso casamento do atestado de óbito de John. E agora meu marido pode, de fato, descansar em paz.

O casamento se trata de promessas e compromissos assumidos perante a lei, e essas leis devem ser aplicadas de forma igual em todos os Estados americanos.

Hoje é um dia importante da nossa história. É um dia em que a Suprema Corte dos EUA fez valer as palavras inscritas na fachada de seu tribunal: Justiça igualitária sob a lei.

Obrigado,

Jim"


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