Folha de S. Paulo


Estudantes chilenos protestam contra projeto de Bachelet para a educação

Dezenas de milhares de estudantes, apoiados por professores em greve há mais de três semanas, marcharam nesta quinta (25) por Santiago (Chile), intensificando a pressão contra a reforma educacional proposta pela gestão da socialista Michelle Bachelet.

Houve confrontos localizados entre alguns participantes da manifestação, que estavam encapuzados, e policiais.

Os estudantes –cerca de 120 mil, segundo a organização do protesto– ocuparam o centro de Santiago com o lema "Que o governo não esconda a bola", referência à Copa América, torneio sul-americano de futebol disputado no país neste ano.

Para o movimento estudantil, que pede educação pública e gratuita, a proposta de reforma da presidente é superficial.

Ueslei Marcelino/Reuters
Manifestantes atiram pedras em um veículo policial durante o protesto contra a reforma, no centro de Santiago
Manifestantes atiram pedras em um veículo policial durante o protesto contra a reforma, em Santiago

IMPLANTAÇÃO COMPLEXA

Bachelet, que já havia governado o Chile de 2006 a 2010, voltou ao poder em março de 2014 com a promessa de substituir o modelo educacional deixado pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), acolhendo uma das principais reivindicações do movimento estudantil chileno.

Com um país com um dos sistemas educacionais mais desiguais do planeta, onde apenas 40% estudam gratuitamente em escola e as universidades são todas pagas, sua promessa encheu de esperanças um amplo setor da sociedade. Mas sua implantação tem sido mais complexa do que o esperado.

No ano passado, Bachelet conseguiu a aprovação de uma primeira parte, referente às escolas, pondo fim à seleção de estudantes, à obtenção de lucros e um "copagamento" por parte dos pais de alunos de escolas subvencionadas.

Mas, devido à pressão de grupos de pais e donos dos colégios, a gratuidade para este tipo de escola será gradual.

Para o ano que vem, no entanto, a presidente prometeu a gratuidade para 260 mil estudantes de instituições do ensino superior, onde estuda atualmente 1,2 milhão de pessoas.

Mas seu governo ainda não enviou ao Congresso um projeto para estabelecer a gratuidade universal da educação superior, conforme prometeu estabelecer a partir de 2020. Também não remeteu aos parlamentares a proposta de tirar dos municípios a administração das escolas públicas para passá-las a uma entidade centralizada.

Os estudantes consideram insuficiente o plano de Bachelet e defendem, entre outros pontos, "gratuidade retroativa" e o perdão de todas as dívidas universitárias acumuladas.

Paralelamente, os professores chilenos decidiram na quarta-feira (24) manter por tempo indeterminado a greve que já dura mais de três semanas, em repúdio a um projeto de lei que regulamentará o exercício da docência.

Os professores pedem a retirada da iniciativa, que vincula os aumentos de salários a avaliações periódicas de desempenho. 


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