Folha de S. Paulo


Senadores teriam aceitado visitar Venezuela sem presença de diplomatas

Contrariando a versão de que a Embaixada do Brasil na Venezuela abandonou à própria sorte senadores brasileiros hostilizados e impedidos de cumprir agenda em Caracas na quinta-feira (18), fontes envolvidas na visita disseram que a comitiva sabia que a representação não iria acompanhá-los.

Na saída do aeroporto Simón Bolívar, a 40 km do centro de Caracas, o micro-ônibus que levava o grupo foi cercado por partidários do governo, que bateram no veículo gritando: "[Hugo] Chávez não morreu, multiplicou-se". A escolta não reagiu.

Em seguida, o veículo ficou parado numa curva de acesso à estrada que leva ao centro devido a um congestionamento causado por um bloqueio policial.

O grupo teve de voltar ao aeroporto, de onde não conseguiu mais sair.

Líder da comitiva de oito senadores, Aécio Neves (PSDB-MG) chegou a dizer que o embaixador Ruy Pereira "desapareceu" e não prestou a devida assistência diante dos incidentes.

Mas fontes que organizaram a visita afirmam que a embaixada havia deixado claro aos senadores a intenção de não seguir o comboio.

O aviso teria sido feito na véspera da chegada da comitiva, quando Eduardo Saboia, assessor da Comissão de Relações Exteriores do Senado, reuniu-se em missão preparatória com o embaixador Ruy Pereira.

Segundo as fontes, Pereira se comprometeu a fornecer transporte, a fazer as devidas gestões de protocolo e segurança junto ao governo local e a estar presente na chegada e na saída da comitiva.

Mas acompanhar os senadores na agenda política –que incluía visita à prisão de Ramo Verde, onde se encontram opositores presos– foi descartado, já que poderia ser visto como ação indevida por parte de diplomatas.

As fontes relatam que, ao sair do avião, por volta de 12h30 (14h de Brasília) de quinta, Aécio teria dito a Pereira que agradecia sua presença e que entendia "perfeitamente as limitações nesta situação".

O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores, nega esta versão. Em nota oficial, disse que Pereira havia prometido a Saboia que o diplomata José Solla acompanharia a comitiva.

Segundo Aloysio Nunes, Saboia ainda cobrou do embaixador, diante dos senadores recém-desembarcados, que cumprisse com a promessa de colocar Solla à disposição da comitiva.

O chanceler Mauro Vieira admitiu ter ordenado a Pereira que não acompanhasse os senadores, mas ressaltou que a embaixada deu a devida assistência. Pereira teria passado mais de duas horas em contato telefônico com interlocutores em Brasília, incluindo Vieira, e com autoridades venezuelanas.

REFORÇO NEGADO
Segundo as fontes, Solla ainda telefonou para o comissário-adjunto do Corpo de Custódia Diplomática e Proteção de Personalidades para pedir reforço de batedores para o avanço da comitiva.

O funcionário venezuelano disse que verificaria o ocorrido, mas nenhuma providência foi tomada, reforçando suspeita de que o bloqueio foi orquestrado.


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