Folha de S. Paulo


Análise

Brasil tenta ressuscitar a OEA

A diplomacia brasileira decidiu injetar um sopro de vida na OEA (Organização dos Estados Americanos), que languidescia um pouco pelo desinteresse dos Estados Unidos e muito pela antipatia a ela de parte dos países ditos "bolivarianos".

O próprio Brasil ficou quatro anos sem embaixador junto à instituição, em sinal de protesto pelas críticas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos à usina de Belo Monte.

Como se fosse pouco, o Senado rejeitou há pouco a indicação de um novo embaixador (Guilherme Patriota), o que prolongou o vazio.

Agora, no entanto, o Itamaraty dá uma guinada e envia o vice-chanceler, o embaixador Sérgio Danese, para chefiar a delegação que participará da assembleia-geral da OEA, iniciada nesta segunda-feira (15).

A assembleia, segundo nota oficial do Itamaraty, dará seguimento ao processo de reflexão sobre a vocação institucional e a relevância da OEA para a promoção de seus quatro "pilares": democracia, direitos humanos, desenvolvimento integral e segurança multidimensional.

A chancelaria informa que "o Brasil está engajado ativamente nesse processo, que deve ter por objetivo transformar a OEA numa organização mais eficiente, mais eficaz e que atenda às expectativas e interesses de todos os países da região".

Passando do palavrório diplomático para os aspectos práticos mais imediatos: se se trata, efetivamente, de promover democracia e direitos humanos (dois dos quatro pilares), a OEA terá que desempenhar um papel relevante na crise da Venezuela.

Até aqui, o regime venezuelano, com apoio de seus pares bolivarianos, recusa-se a aceitar a OEA, que a esquerda sempre tratou como "ministério das colônias dos EUA".

A mediação na crise venezuelana está sendo feita pela Unasul (União das Nações Sul-Americanas), que, obviamente, não inclui os Estados Unidos.

O Brasil participa dos esforços da Unasul, mas ao "ressuscitar" a OEA, é razoável supor que dará a ela um papel também ressuscitado, até pela maior abrangência da entidade.

Além do mais, o novo secretário-geral da OEA é o uruguaio Luis Almagro, uma indicação do então presidente José "Pepe" Mujica, um estadista que está acima do bem e do mal na América Latina.

Tudo somado, tem-se que recuperar a OEA, se de fato o Itamaraty está empenhado nisso, significará mais do que um balé diplomático de cerimônia.


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