Folha de S. Paulo


Ativista de direitos civis finge ser negra para se promover, dizem pais

Rachel Dolezal, 37, é presidente de uma associação que defende os direitos dos negros nos EUA. Na Universidade de Eastern Washington, em que é professora-adjunta no departamento de estudos africanos, ela deu aulas sobre os desafios de ser uma mulher negra. Mas, segundo os pais da ativista, ela é branca e vem mentindo sobre sua origem há anos.

Os problemas de Dolezal, que dirige o escritório da NAACP (sigla em inglês para Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor) em Spokane (Washington), começaram depois que a polícia passou a investigar ameaças feitas à ativista.

Divulgação
Rachel Dolezal como ela se apresenta e, à direita, fotografia antiga divulgada pelos pais
Rachel Dolezal como ela se apresenta e, à direita, fotografia antiga divulgada pelos pais

Um relatório da polícia apontou que uma carta com referências a linchamentos e casos de racismo, recebida em fevereiro na caixa postal da NAACP, não tinha sinais de ter passado pelos Correios –como um selo ou um código de barras. A suspeita é de que ela mesma seja a responsável pela correspondência.

O caso ganhou destaque depois que, na quinta-feira (11), seus pais, Ruthanne e Larry –ambos brancos– afirmaram em entrevista a um canal de TV local que Dolezal tem ascendência alemã e tcheca, com traços "fracos" de nativos americanos.

"A Rachel quis ser alguém que não é. Ela escolheu não ser ela mesma e se apresentar como uma mulher afro-americana ou uma pessoa birracial. E isso simplesmente não é verdade", disse a mãe da ativista –que não mantém contato com a família.

A reportagem, do canal KREM 2, mostra fotos de Dolezal na adolescência, com a pele branca e os cabelos loiros e lisos. Hoje, ela se apresenta com o cabelo afro e a pele mais morena.

De acordo com os pais, Rachel Dolezal sempre se identificou com a cultura afro-americana e tinha irmãos adotivos negros. Em 2004, no entanto, começou a se apresentar de forma diferente após se divorciar de um homem negro.

Dolezal costumava afirmar que era filha de um casal birracial. Em uma publicação de janeiro, a página da NAACP no Facebook trazia uma foto da ativista ao lado de um homem negro, identificado como seu pai.

Em outro post, de 2013, em seu perfil pessoal, ela mostra seu penteado afro e afirma "saindo com o meu 'look' natural no aniversário de 36 anos."

INVESTIGAÇÃO

Além de um pouco de vergonha pública, a mentira pode trazer problemas legais para Rachel Dolezal, que é membro da Comissão de Supervisão da Polícia de Spokane. A prefeitura abriu um inquérito para investigar se ela violou as políticas da cidade ao se identificar, em sua aplicação para o cargo, como branca, negra e índia americana.

"Estamos reunindo os fatos para determinar se houve alguma violação das regras para conselhos e comissões de voluntários", afirmaram o prefeito, David Condon, e o presidente do Conselho da Cidade, Ben Stuckart, em comunicado.

Dolezal se defendeu dizendo que não considera seus pais biológicos sua verdadeira família. Segundo ela, um processo judicial envolvendo os familiares a afastou dos pais.

Em nota sobre o caso, a NAACP, que tem sede em Baltimore (Maryland), defendeu a ativista.

"Rachel Dolezal está passando por uma batalha legal com sua família, e nós respeitamos sua privacidade. A identidade racial de alguém não é critério de qualificação para a liderança da NAACP", diz o texto.


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