Folha de S. Paulo


Mulher de opositor venezuelano preso cobra apoio de Dilma contra Maduro

A mulher do líder opositor venezuelano Leopoldo López, preso há um ano por instigar protestos antigoverno, cobrou do Brasil posição mais contundente em relação a supostos abusos cometidos pelo presidente Nicolás Maduro.

"Dilma [Rousseff], ajude-nos, pronuncie-se", disse Lilian Tintori durante manifestação em Caracas convocada por López.

Diante de milhares de simpatizantes, Tintori estendeu o apelo às presidentes Michelle Bachelet, do Chile, e Cristina Kirchner, da Argentina, e pediu que as três chefes de Estado venham à Venezuela para ver de perto a crise política e econômica no país.

À Folha, Tintori disse esperar que Dilma, "como mulher e como mãe, apoie os que pedem democracia e liberdade."

Críticos dizem que o governo brasileiro faz vista grossa diante dos ataques de Maduro a opositores e à imprensa por causa dos colossais interesses econômicos do Brasil na Venezuela e dos laços ideológicos entre alguns setores petistas e chavistas.

O Brasil nega descaso e afirma atuar com empenho, mas sem alarde, em favor de uma solução pacífica e institucional à tensa polarização no país vizinho.

Nos últimos meses, o governo brasileiro adotou tom mais crítico em relação a Maduro.

Caracas rejeita acusações de abusos e diz que López e os demais políticos presos, como o ex-prefeito de San Cristóbal Daniel Ceballos, violaram a lei ao promover distúrbios que terminaram com a morte de 43 pessoas em 2014, incluindo policiais e manifestantes.

No protesto deste sábado (30), manifestantes chamavam Maduro de "ditador."

GREVE DE FOME

Tintori disse que López e Ceballos continuarão sua greve de fome iniciada há uma semana até que o governo anuncie a data da eleição parlamentar prevista para o fim do ano.

A oposição teme que o governo adie ou cancele o pleito caso perceba que pode perder.

Tintori pediu aos venezuelanos que jejuem durante em dia em solidariedade aos políticos presos.

Vários políticos opositores que estavam no palanque rasparam a cabeça em sinal de apoio a López e Ceballos.

Em mais um indício de que as divergências continuam minando a oposição, o governador do Estado de Mirando e ex-candidato à Presidência Henrique Capriles não participou do protesto, embora tenha anunciado publicamente que iria.

Ele preferiu viajar ao interior para tentar visitar Ceballos na cadeia. A polícia o impediu de chegar.

A comerciante Caterina, 45, culpa o governo pelas divisões nas fileiras opositoras.

"Eles nos manipulam e jogam os políticos da oposição para lados opostos. Mas o que importa é que manifestações como esta mostram que os verdadeiros protagonistas são os cidadãos."


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