Folha de S. Paulo


Líderes de protestos de 2011 vencem eleições municipais em Barcelona

O clamor das ruas que tomou as cidades da Espanha em 2011 na esteira da crise de 2008/09 invadiu neste domingo (24) as urnas de eleições para 13 comunidades autônomas (equivalentes aproximados a Estados) e para 8.122 municípios.

Rompeu-se, com isso, o bipartidarismo que caracteriza a política espanhola desde 1982, quando se iniciou a polarização entre os conservadores do PP (Partido Popular) e o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol).

Um número nacional ilustra bem a queda no apoio aos partidos tradicionais: nas municipais anteriores (2011) PP e PSOE juntos levaram 65,33% dos votos, com vantagem para o PP (37,54% x 27,79%).

Neste domingo, os dois não passavam de 51%, de novo com vantagem do PP (26% x 25%), que, no entanto, recua bastante (11 pontos percentuais). Mas talvez mais significativo tenha sido o resultado do pleito nas duas mais emblemáticas cidades espanholas, a capital, Madri, e Barcelona.

Na capital, explodiu Ahora Madrid, uma confluência de movimentos cidadãos entre os quais Podemos, o partido resultante do chamado movimento dos indignados, que ocupou as ruas da Espanha anos atrás. Perdeu por apenas um vereador nesse feudo do PP, que governa a cidade há 24 anos (no parlamentarismo, são os parlamentares que elegem o governante, no país e na cidade).

Sua candidata está longe de ser uma política tradicional. Chama-se Manuela Carmena, é juíza e foi, durante a ditadura de Francisco Franco (1939/1975), uma das mais ativas defensoras de perseguidos políticos.

Em Barcelona, ganhou Barcelona en Comú, (Barcelona em Comum), outra confluência de movimentos da cidadania em que Podemos tem papel relevante. A nova agrupação superou, também por um vereador, a tradicional CiU (Convergência e União), o grupo independentista que governa tanto Barcelona como a Catalunha.

A cabeça de chapa, Ada Colau, é também uma ativista de direitos humanos, mas motivada por um tema mais contemporâneo: destacou-se na defesa das vítimas de despejo, uma praga social na Espanha, depois que estourou a bolha imobiliária.

Foi essa explosão que provocou a crise que derrubou a economia toda, levou o desemprego a níveis obscenos (ainda hoje está em 23%) e afetou os partidos tradicionais.

Também conseguiu resultados expressivos, embora em menor escala, outro movimento à margem dos partidos tradicionais, chamado Cidadãos, originalmente de Barcelona mas que fez neste domingo seu primeiro voo nacional.

Cidadãos é de centro-direita e concorre, em tese, com o PP (Partido Popular), que governa o país desde 2011. "Podemos" é de centro-esquerda e disputa votos ao PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol).

PP e PSOE recebem somados três quartos dos votos nas eleições nacionais, desde 1982, quando se instalou a polarização.

Na mais recente votação nacional (2011), a soma dos dois já havia caído algo (para 73%). Mas é o resultado deste domingo que indica uma nova situação, a ser testada, nacionalmente, na votação prevista para o segundo semestre.

Embora atrás dos partidos tradicionais nas eleições autonômicas, Podemos e Cidadãos conseguiram vagas em todos os parlamentos regionais.


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