Folha de S. Paulo


Obama vira alvo de ataques racistas em conta no Twitter

Quando o presidente Barack Obama fez seu primeiro post no Twitter, do Salão Oval, na segunda-feira, a Casa Branca tratou o evento com alarde, postando uma foto que o mostrava em sua mesa digitando a mensagem em um iPhone.

A conta @POTUS —cujo nome faz referência à sigla interna usada para designar o "President of the United States"— "serviria como uma nova maneira de o presidente Obama se engajar diretamente com o povo norte-americano, por meio de tuítes escritos exclusivamente por ele", escreveu um assessor da Casa Branca naquele dia.

Mas foram precisos apenas alguns minutos para que a conta de Obama atraísse posts e respostas racistas e de ódio. O presidente foi alvo de epítetos raciais e foi chamado de macaco. Um dos posts mostrava uma imagem do presidente com o laço de uma forca no pescoço.

Reprodução/Twitter/@POTUS
Conta do Twitter do presidente americano Barack Obama - https://twitter.com/POTUS
Conta do Twitter do presidente americano Barack Obama - https://twitter.com/POTUS

Os posts refletem a hostilidade racial ao primeiro presidente negro do país, que há muito vem sendo expressa em termos grosseiros na internet, onde teorias da conspiração prosperam e preconceitos são expressos com facilidade.

Mas os posts racistas do Twitter são diferentes porque, agora que Obama tem uma conta, eles são dirigidos diretamente a ele, para que todos vejam.

Poucos minutos depois do primeiro e entusiástico tuíte de Obama —Oi, Twitter! Aqui é o Barack! Mesmo!—, usuários do Twitter responderam, ocasionalmente com palavrões, exortações para que o presidente se matasse e mais.

Uma pessoa postou uma imagem adulterada de um famoso cartaz de campanha de Obama, na qual ele aparecia com uma corda no pescoço, os olhos fechados e o pescoço aparentemente quebrado, como se tivesse sido linchado.

Em lugar da palavra "esperança" [hope]", a imagem adulterada trazia a palavra "corda" [rope].

A mensagem que acompanhava o post dizia #prendamobama, #traição, precisamos de CORDA PARA MUDAR".

Ela foi endereçada à conta @POTUS por um usuário que assinou como @jeffgully49, que já havia postado outras imagens de Obama com uma corda no pescoço e cujo perfil do Twitter traz uma foto de Obama atrás das grades. "Traidores continuam a ser enforcados, não é?", era o texto de seu post.

O autor, Jeff Gullickson, de Mineápolis, postou subsequentemente na quinta-feira (21) que o post havia valido uma visita do Serviço Secreto à sua casa.

Contatado para comentar a respeito, Gullickson respondeu por e-mail perguntando quanto o "New York Times" lhe pagaria por uma entrevista.

Funcionários da Casa Branca e um porta-voz do Twitter disseram que não eram capazes de determinar a porcentagem de posts racistas sobre Obama.

Mas eles pareciam ser minoria em uma demonstração de amor das mídias sociais pelo presidente, que estava atraindo seguidores em ritmo recorde —mais de 2,3 milhões nesta sexta—, com centenas de mensagens elogiosas agradecendo-o por estar no Twitter e elogiando-o por toda espécie de coisa, de sua aparência às suas políticas.

"Amo você, @POTUS", escreveu uma pessoa, @camerondallas, que tem cerca de 5 milhões de seguidores, em um post que mais de 15 mil outros usuários classificaram como favorito.

Mas existe um indicador quanto a um insulto específico. De acordo com dados compilados pela Topsy, uma companhia que recolhe e analisa dados sobre material compartilhado no Twitter, o número de posts que incluem o nome de Obama e um determinado epíteto racial subiu substancialmente na segunda-feira, o dia do primeiro post do presidente, para 150.

Um usuário do Twitter que não recorreu àquele epíteto racial específico respondeu ao presidente com apenas duas palavras: "Macaco negro", uma comparação que não se provou incomum.

"Volte para sua jaula, macaco", outra pessoa escreveu.

Josh Earnest, secretário de Imprensa da Casa Branca, disse que os termos usados contra o presidente eram infelizmente "muito comuns na internet", e que as autoridades provavelmente não dedicariam muito tempo a bloquear comentaristas abusivos na conta do presidente.

"O que acreditamos é que a nova conta do presidente no Twitter poderá ser usada para propósitos importantes, para comunicação com o povo dos EUA e para promover o engajamento", disse Earnest. "Estamos satisfeitos com a resposta inicial a ela."

Ainda assim, a ascensão da mídia social, que coincidiu com a ascensão política de Obama, fez do presidente alvo frequente de comentários de ódio e ameaças na internet. O fenômeno atingiu seu pico durante a campanha presidencial e os dias que antecederam sua posse, em 2008, mas recuou mais tarde.

O Serviço Secreto conta com uma divisão especial de "ameaças de Internet" para monitorá-las, avaliar se constituem perigo genuíno e o que se deve fazer em resposta.

"As pessoas têm direito à livre expressão", disse Brian Leary, porta-voz do Serviço Secreto. "Também temos o direito e a obrigação de determinar as intenções de uma pessoa quando ela diz certas coisas."

A resposta pode variar de uma conversa para determinar as intenções da pessoa a cooperação com autoridades locais para abrir um processo contra ela, disse Leary.

As agências policiais também podem submeter solicitações ao Twitter quando surgem posts que podem representar perigo físico imediato para alguém, e o Twitter proverá informações sobre a conta em questão.

Um relatório de transparência do Twitter divulgado no segundo semestre de 2014, o mais recente documento disponível sobre o assunto, mostra que o governo fez mais de 1,6 mil solicitações desse tipo, e o Twitter forneceu informações em 80% dos casos.

"Como todos os nossos pares no setor de tecnologia, não monitoramos conteúdo de maneira pró-ativa", disse Nu Wexler, porta-voz do Twitter.

"Usuários individuais e agências policiais e judiciais —entre as quais o Serviço Secreto dos Estados Unidos— reportam conteúdo a nós e revisamos essas informações de acordo com nossas regras, que proíbem ameaças violentas e abusos direcionados contra pessoas".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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