Folha de S. Paulo


Vizinhos dizem estar inconformados com libertação de pedófilo argentino

Uma decisão polêmica da Justiça de Buenos Aires reduziu a pena de um homem condenado por abusar de uma criança de seis anos.

Na sentença, os juízes alegam que o menino já teria sido violentado antes e sugerem que ele teria "comportamento homossexual". No bairro de Loma Hermosa, na cidade de Tres de Febrero, na Grande Buenos Aires, os vizinhos estão inconformados.

"Colocar um violador nas ruas? Ele voltará a abusar de alguém. E ainda dizem que a culpa é do menino", disse Olga Ramirez, que mora em frente à escola onde tudo teria acontecido, há cinco anos.

Mariana Carneiro/Folhapress
Escola onde ocorreu o abuso do menor G., na periferia de Buenos Aires, há cinco anos; local não abriu nesta terça (19)
Escola onde ocorreu abuso de G., na Grande Buenos Aires, há cinco anos; local não abriu na terça (19)

Mario Tolosa era dirigente do clube Florida e usava a quadra da escola para levar os meninos do bairro para jogar futebol.

Um dia, o menino G. chegou em casa queixando-se à avó de dores nas partes íntimas. Dias depois, uma tia contou que ele teria falado a seguinte frase ao primo (filho dela) enquanto os dois brincavam: "Te pago dois pesos e você me chupa".

A avó e a tia estranharam e lembraram da reclamação de G. ao voltar do futebol. Ele acabou revelando os abusos ocorridos no vestiário.

"Quando a história se espalhou, ele [Tolosa] veio tirar satisfação aqui na porta de casa. Quando o menino o viu, deu três passos para trás e fez xixi nas calças. Os vizinhos pegaram ele [Tolosa], lhe deram uma surra e só não lhe atearam fogo porque a avó pediu que não o fizessem", disse Osvaldo, que se apresenta como padrasto de G. e pediu que seu sobrenome não fosse divulgado, para não expor ainda mais o menor.

Ele é casado com uma prima de G., Aldana, que cria o menino junto com os outros filhos do casal. O pai de G. esteve preso por anos, acusado de violentar outro menor, e a mãe desapareceu. A avó morreu há dois anos.

Na noite de segunda (18), alguns vizinhos tentaram atear fogo à casa de Tolosa. "Um homem subiu na casa ontem à noite, queria botar fogo em tudo", disse Francisca Rodriguez, vizinha de Tolosa. "Depois disso, ele, a mulher e o filho foram embora."

Condenado a seis anos de prisão, Tolosa cumpriu três anos e dois meses. Ninguém atendeu à campainha de sua casa nesta terça (19).

VERGONHA

Osvaldo apressa-se em dizer que G. não é gay. Conta que o menino, hoje com 11 anos, tem namorada e sente vergonha do que aconteceu.

"Minha mulher apareceu de costas na TV e ele implorou para que não voltássemos a aparecer. Não quer que ninguém saiba."

Eles vivem a três quadras de Tolosa, mas não sabiam da liberação até que o despacho dos juízes Horacio Piombo e Benjamín Sal Llargués fosse divulgado.

A comunidade gay pressiona pelo afastamento deles da magistratura. A promotoria recorreu à Suprema Corte, e Piombo foi afastado da universidade onde dava aulas.

Em 2011, os mesmos juízes reduziram a pena de um pastor acusado de abusar de duas adolescentes, de 14 e 16 anos. Eles argumentaram que elas pertenciam a um nível social mais baixo, em que se aceitariam relações sexuais mais jovens.


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