Folha de S. Paulo


UE anuncia ação contra traficantes para tentar conter fluxo migratório

A União Europeia aprovou nesta segunda (18) uma operação naval para combater o tráfico de pessoas pelo Mediterrâneo, que já deixou mais de 1.800 mortos só neste ano.

Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Espanha prometeram enviar navios de guerra para a missão, numa rara articulação militar do bloco europeu, geralmente restrito a ações conjuntas nos campos político e financeiro.

A Otan (aliança militar ocidental) também já se declarou pronta para colaborar.

Segundo definido em reunião em Bruxelas, a ação europeia será dividida em três fases. A primeira consiste numa operação de inteligência, que mapeará rotas e responsáveis pelo tráfico de pessoas a partir do norte da África.

Segundo o jornal "The Guardian", o governo britânico deve oferecer drones e outros equipamentos de monitoramento para essa fase.

As etapas seguintes seriam a identificação e a inspeção das embarcações operadas pelo tráfico, e, por último, a destruição desses barcos.

Essa última fase é a mais polêmica, já que alguns governos, como o do Reino Unido, defendem que as embarcações só sejam destruídas se houver, antes, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que permita a ação.

Os britânicos já teriam tomado a frente na redação de um rascunho de resolução para apresentar na sede do organismo, em Nova York.

Editoria de arte/Folhapress

MODELO DE NEGÓCIO

Para Federica Mogherini, a chefe da diplomacia europeia, o fato de o texto ter sido aprovado por ministros de Relações Exteriores e de Defesa numa reunião "muito intensa" em Bruxelas pode ajudar a convencer os membros do Conselho de Segurança a dar seu aval à operação militar.

"O ponto fundamental não é tanto a destruição das embarcações, mas a destruição do modelo de negócio dos traficantes", disse ela. "Creio que após tomarmos essa decisão hoje, é mais provável que o Conselho de Segurança aprove uma resolução."

O plano poderia entrar em vigor em 25 de junho, segundo previsão apresentada a jornalistas. A proximidade do verão no hemisfério Norte aumenta a urgência da missão.

"Com a chegada do verão, mais pessoas viajam, e eu gostaria de ter a operação funcionando o quanto antes", disse Mogherini.

A sede da missão conjunta europeia será em Roma –a Itália é um dos principais destinos dos imigrante– e ficará a cargo do contra-almirante Enrico Credendino, com mandato inicial de um ano.

"Mesmo que as operações de resgate no mar permaneçam nossa prioridade, temos que trabalhar simultaneamente as causas, o que leva as pessoas a se aventurarem nessa fuga de alto risco", disse a ministra da Defesa alemã,
Ursula von der Leyen.

Para organizações de defesa dos direitos humanos, no entanto, a resposta militar apresentada pela UE para a crise dos imigrantes pode resultar em mais mortes.

"Se houver menos barcos, mais pessoas serão colocadas em cada embarcação", afirma Michael Diedring, secretário-geral do Conselho Europeu sobre Refugiados e Exilados (Ecre, em inglês).

"Há ainda a possibilidade, considerando a situação de desespero em que estão essas pessoas, de que elas possam tentar construir seus próprios barcos", afirmou.


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