Folha de S. Paulo


Partidos mexicanos vivem desgaste a menos de um mês das eleições

A pouco menos de um mês das eleições que vão reconfigurar o Congresso e escolher 9 governadores e 993 prefeitos, os partidos mexicanos enfrentam desgaste e dificuldade de renovar lideranças.

Enquanto em alguns Estados, sindicatos e movimentos sociais pedem o boicote às eleições, o governo federal começa a pensar estratégias para formar uma nova base de apoio.

No início de sua gestão, em 2013, o presidente Enrique Peña Nieto (Partido Revolucionário Institucional) conseguiu formar o Pacto por México, reunindo setores da oposição. Assim, pôde fazer aprovar mudanças na Constituição -como a que privatizou parte da exploração do petróleo e outros projetos.

José Luis de la Cruz - 19.mar.2015/Efe
Grupo contrário às eleições e que apoia parentes de estudantes desaparecidos pinta muro no Estado de Guerrero
Grupo contrário às eleições e que apoia parentes de estudantes desaparecidos pinta muro no Estado de Guerrero

"Esse cenário favorável não existe mais, a esquerda abandonou o pacto, e o PRI precisa reverter a queda de popularidade", diz à Folha o sociólogo Roger Bartra.

A principal força de oposição, o Partido da Revolução Democrática, que havia rachado internamente por conta de opiniões divergentes quanto à reforma energética, perdeu suas principais figuras.

Editoria de Arte/Folhapress
Eleições no México
Eleições no México

O ex-candidato a presidente Antonio Manuel López Obrador deixou a agrupação e formou seu próprio partido, o Morena (Movimento de Regeneração Nacional). Parte da intelectualidade progressista o apoiou, mas apenas até a desaparição dos 43 estudantes no Estado de Guerrero, em setembro último.

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Isso porque os acusados de serem mandantes do crime, o prefeito da cidade de Iguala, José Luis Abarca, e sua mulher, María de los Angeles Pineda, eram do PRD e aliados políticos de López Obrador.

A aliança do partido com autoridades regionais acusadas de alianças com o narcotráfico _Abarca, como outras autoridades locais pertencentes ao partido, responde por crimes anteriores _ fez com que o líder histórico e moral do PRD também abandonasse a legenda.

Trata-se de Cuauhtémoc Cárdenas, 80, espécie de líder moral da agremiação e filho do ex-presidente histórico Lázaro Cárdenas (1895-1970).

"Parece incrível que a esquerda não tenha sabido aproveitar a queda de popularidade de Peña Nieto depois que o país saiu às ruas contra ele por conta da desaparição dos estudantes", completa Bartra.

Já o direitista PAN (Partido da Aliança Nacional), que governou o país por 12 anos após mais de 70 anos de hegemonia do PRI, encontra-se desgastado por conta do fracasso de sua guerra contra o narcotráfico.

No sexênio de Felipe Calderón (2006-12), quando as ações bélicas se intensificaram, o número oficial de mortos superou os 50 mil. Nas últimas eleições presidenciais, a promessa do partido, Josefina Vázquez Mota, teve apenas 14% dos votos.

Enquanto isso, o ex-presidente Vicente Fox teve a imagem desgastada após declarar que os pais dos estudantes mortos deveriam deixar de protestar e "superar o episódio".

O PRI, por sua vez, complicou-se por conta de acusações de corrupção envolvendo membros da alta cúpula do governo (leia ao lado).

BOICOTE

Sem partidos alternativos de relevo, crescem os pedidos de boicote em vários pontos do país. Na capital, o poeta Javier Sicília, que perdeu um filho assassinado pelo crime organizado, em 2011, pediu num ato em praça pública que as pessoas compareçam para votar no próximo dia 7, mas que rasguem os boletos.

Alguns dias antes, no Estado de Oaxaca, professores haviam tomado escritórios do INE (Instituto Nacional Eleitoral), onde destruíram cartazes de vários partidos, não poupando nem governistas nem a oposição.

Ações pedindo boicote ao pleito também foram registradas em Chiapas, Morelos, Tamaulipas e Sonora.

Já em Guerrero, a reportagem da Folha encontrou milícias rurais e agrupações de trabalhadores que têm realizado ações de protesto para tentar impedir as eleições.

As cabines do pedágio na rota que liga a Cidade do México ao balneário turístico de Acapulco, foram depredadas e tomadas, exigindo pagamento dos motoristas aos grupos revoltosos.

À Folha o governador interino do Estado, Rogelio Ortega, disse que ainda considera "frágeis as tentativas de boicote, mas estamos preocupados com essas ações mais violentas, como queima de carros e barricadas.

Vamos tomar todas as precauções." Ortega ocupa o posto após a destituição de Ángel Aguirre, por conta da desaparição dos estudantes na escola rural de Ayotzinapa.

Segundo estudo realizado pelo Colégio de México, 80% dos mexicanos já não acreditam mais em partidos políticos, e a confiança na autoridade eleitoral também anda baixa, apenas 36%.

As razões da apatia eleitoral (no México, o voto não é obrigatório) estão relacionadas à violência, à corrupção, a degradação dos índices econômicos como efeito da queda do valor do barril de petróleo e a insatisfação com a reforma energética -a promessa de queda no preço da gasolina e nas contas de luz não se cumpriu.


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