Folha de S. Paulo


Procuradora do caso Freddie Gray é intransigente com erros policiais

Marilyn J. Mosby, a procuradora estadual em Baltimore que nesta sexta-feira (1º) anunciou o indiciamento criminal de seis policiais por envolvimento na morte de Freddie Gray, chegou a seu cargo há apenas quatro meses, tendo sido eleita em Baltimore com o apoio de ativistas comunitários.

Eles a veem como uma profissional agressiva no combate aos erros de conduta de policiais.

Aos 35 anos, Mosby é a procuradora mais jovem de qualquer grande cidade dos EUA. Seu título formal é procuradora do Estado de Maryland para a cidade de Baltimore.

O anúncio dramático que ela fez nesta sexta-feira parece ter pego totalmente de surpresa as pessoas em Baltimore e imediatamente chamou a atenção nacional para ela. Não apenas pela linguagem direta e sem rodeios que usou ao descrever o comportamento dos policiais mas também pelo modo como falou diretamente ao público revoltado com a morte de Gray.

"À população de Baltimore e aos manifestantes em todo o país digo que eu ouvi seu chamado por 'sem justiça não há paz'", disse Mosby.

"Àqueles de vocês que estão revoltados, feridos ou que têm sua própria experiência de injustiça digo que a paz de vocês é realmente necessária enquanto eu trabalho para conseguir justiça para este rapaz."

Quando se candidatou ao cargo, Mosby prometeu ser mais intransigente com criminosos violentos e também com erros de conduta de policiais.

Pessoas como Tawanda Jones, cujo irmão Tyrone West morreu após um enfrentamento físico violento com policiais, fizeram campanha acirrada por ela -em parte, disse Jones, para afastar seu predecessor no cargo, Gregg L. Bernstein.

"Eu teria apoiado qualquer pessoa para tirar Bernstein daquele cargo", falou em entrevista Jones, que desde a morte de seu irmão vem protestando contra o tratamento dado pela polícia a homens negros em Baltimore.

"Eu estava tentando levar ao cargo qualquer pessoa que levasse este problema a sério."

Jones disse que, depois de observar Marilyn Mosby, se convenceu de que ela o faria.

Mosby vem de uma família de policiais, mas também fez da intransigência com os erros de conduta de policiais uma das características principais de sua agenda como procuradora.

Montagem com fotos do Departamento de Polícia de Baltimore
A partir do alto, à esq., no sentido horário, Edward M. Nero, Garrett E. Miller, Alicia D. White, William G. Porter, Caesar R. Goodson Jr. e Brian W. Rice, os seis policiais acusados pela morte de Freddie Gray
A partir do alto, à esq., no sentido horário, Edward M. Nero, Garrett E. Miller, Alicia D. White, William G. Porter, Caesar R. Goodson Jr. e Brian W. Rice, os seis policiais acusados pela morte de Freddie Gray

Além da presença de policiais em sua família, ela tem outros vínculos pessoais com questões da Justiça.

Quando era jovem, em Boston, um primo de 17 anos foi confundido com um traficante de drogas e morto diante de sua casa por outro jovem de 17 anos.

Mosby vem falando com muita franqueza sobre a necessidade de cobrar responsabilidade dos policiais por seus atos.

Quando era candidata ao cargo, em resposta a uma investigação do jornal "Baltimore Sun" sobre alegações de espancamentos que teriam sido cometidos pela polícia, ela disse: "A brutalidade policial é completamente indesculpável. Eu vou aplicar a Justiça igualmente para todos, mesmo para quem usa distintivo."

Mosby é casada com o vereador Nick Mosby, de Baltimore, fato que levou a apelos do sindicato de policiais para que ela se declarasse sem condições de ser procuradora.

Ela rejeitou esses chamados na coletiva de imprensa que deu nesta sexta. "Eu defendo a aplicação das leis. Ele cria as leis", ela disse. "E eu processarei qualquer caso que estiver dentro de minha jurisdição."

Marilyn Mosby vem de uma longa linhagem de policiais. Seu pai, sua mãe e seu avô eram policiais. Seu avô, segundo ela, foi membro fundador da primeira associação de policiais negros do Massachusetts -ponto que ela destacou nesta sexta em comentários dirigidos à polícia de Baltimore.

"Aos policiais de escalão mais baixo", disse, "saibam que as acusações feitas a estes seis policiais não representam um indiciamento da força policial como um todo."

Sonia Kumar, advogada da representação em Maryland da União Americana de Liberdades Civis, comentou: "Os atos dela (Mosby) realmente nos revelaram hoje quem ela é. Há anos e anos, vítimas da violência policial em nossa cidade, em sua maioria avassaladora negras, buscaram em vão Justiça para seus entes queridos. Este é um momento histórico."

Tradução de Clara Allain


Endereço da página:

Links no texto: