Folha de S. Paulo


Haverá justiça para jovem negro morto, diz prefeita de Baltimore

A prefeita de Baltimore (Maryland), Stephanie Rawlings-Blake, afirmou nesta sexta-feira (1º), que ninguém está acima da lei na cidade.

"Eu fiquei enojada e de coração partido pelas acusações anunciadas hoje", disse, referindo-se à decisão da promotoria de denunciar por homicídio os policiais envolvidos na morte do jovem negro Freddie Gray, em abril.

"Eu continuarei a ser implacável na busca por mudar a cultura do Departamento de Polícia [de Baltimore], para assegurar que todos em nossa cidade sejam tratados de forma igualitária sob a lei", afirmou a prefeita em breve pronunciamento. "Haverá Justiça para o senhor Gray, para sua família e para a cidade de Baltimore."

De acordo com ela, cinco dos seis agentes envolvidos já estão detidos –sua prisão preventiva foi pedida pela procuradora do Estado em Baltimore, Marilyn Mosby. Rawlings-Blake afirmou ainda que pediu ao comissário da polícia, Anthony Batts, que suspenda imediatamente os policiais responsáveis pela prisão de Freddie Gray.

Embora o tom do discurso tenha sido crítico, a prefeita fez questão de ressaltar que os homens e mulheres da Polícia de Baltimore "servem nossa cidade com orgulho, honra e distinção."

"Mas, para aqueles que querem se engajar na brutalidade, na má conduta e no racismo, serei clara: não há espaço para vocês neste departamento", afirmou.

Gray, 25, sofreu uma grave lesão na coluna ao ser preso no dia 12 de abril e morreu sete dias depois. De acordo com o relatório divulgado pela procuradora em Baltimore, ele foi ferido durante o transporte em uma van policial, em que foi colocado com mãos e pés algemados e sem cinto de segurança.

Cada um dos seis agentes responsáveis pela detenção de Gray recebeu diferentes acusações da Procuradoria. O motorista da van, o oficial Ceasar Goodson, foi acusado de homicídio doloso e pode pegar até 30 anos de prisão.

Luciano Veronezi/Editoria de arte/ Folhatress

"O que eu acredito que as pessoas de Baltimore mais querem é a verdade. É isso todos no país esperam", afirmou o presidente norte-americano, Barack Obama. Ele não quis comentar o processo legal contra os policiais, mas ressaltou que os seis agentes "obviamente têm direito a um julgamento adequado".

De acordo com Obama, o Departamento de Justiça e a nova secretária, Loretta Lynch –que assumiu o cargo nesta semana–, estão em contato com as autoridades de Baltimore para fornecer assistência às investigações.

Antes do anúncio, um dos sindicatos de policiais da cidade, Fraternal Order of Police, divulgou um comunicado pedindo que a procuradora na cidade, Marilyn Mosby, apontasse um promotor especial para investigar o caso.

O presidente do sindicato, Gene Gyan, afirmou que o julgamento de Mosby pode ser atrapalhado por suas conexões pessoais com o advogado da família de Gray, William Murphy, e pelo fato de seu marido ser um vereador de Baltimore.

"Por mais trágica que seja esta situação, nenhum dos policiais envolvidos são responsáveis pela morte do senhor Gray", disse Gyan.

COMEMORAÇÃO

Depois de dias de tensão após os violentos protestos contra a morte de Gray na segunda-feira (27), os moradores de Baltimore reagiram com entusiasmo ao anúncio de Mosby.

Enquanto ela discursava no Memorial de Guerra da cidade, era possível ouvir os gritos de comemoração de parte da população que acompanhava o pronunciamento.

No bairro de Sandtown-Winchester, em que Gray cresceu, dezenas de pessoas foram às ruas após a decisão. "Freddie, Freddie, Freddie", gritava um grupo no cruzamento entre as avenidas North e Pensilvânia, que se tornou o epicentro dos protestos por Justiça nos últimos dias.

Carros passavam buzinando em meio aos manifestantes e às centenas de policiais que ainda ocupam a região.

"Uma mensagem foi enviada pela procuradora: de que ela valoriza cada vida, cada pessoa. Deixemos as rodas da Justiça começarem a girar", afirmou o deputado federal, Elijah Cummings (Maryland), que passou a semana em Baltimore como parte dos esforços para acalmar a população.


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