Folha de S. Paulo


Quatro anos após morte de Bin Laden, terrorismo produz mais vítimas

Quatro anos após a morte de Osama bin Laden, o terrorismo não para de crescer.

Em 2011, ano em que o líder da Al Qaeda foi morto pelos Seals (forças especiais da Marinha dos EUA) em Abbottabad, no Paquistão, 12.533 pessoas morreram em decorrência de terrorismo. Em 2013, último dado disponível, foram 17.800 mortes, um salto de 42%, segundo o Departamento de Estado dos EUA.

Sucessivos ataques de drones contra o núcleo duro da Al Qaeda no Afeganistão e no Paquistão de fato enfraqueceram a milícia radical.

Mas houve uma multiplicação de filiais da Al Qaeda e outros grupos jihadistas no mundo. Eram três em 1988, 40 em 2011 e 49 em 2013, segundo Seth Jones, pesquisador do centro de estudos Rand Corporation.

A Al Qaeda não é mais a mesma organização hierarquizada da época em que planejava ataques audaciosos a alvos ocidentais. Foca atentados no mundo muçulmano, sobretudo no Oriente Médio e Norte da África, e tornou-se
descentralizada.

Ayman al-Zawahiri, o substituto de bin Laden, tem pouquíssimo controle sobre ações das filiais da Al Qaeda.

E as filiais são muitas: Al Qaeda no Iraque, Al Qaeda na Península Arábica (Iêmen), Al Qaeda no Maghreb Islâmico (Argélia, Líbia, Mali). O próprio Estado Islâmico é uma dissidência da Al Qaeda no Iraque.

Sem contar facções que se declaram leais à Al Qaeda: Al Shabaab (Somália), que matou 148 em uma universidade do Quênia em abril; Boko Haram (Nigéria, Chade e Camarões), que matou mais de mil em Baga em janeiro; Ansar al Sharia (Tunísia) e frente Al Nusra (Síria).

Com a proliferação de facções, subiu o número de ataques: foram cem em 2007; 650 em 2011 e mais de 900 em 2013. Segundo a Rand, o Estado Islâmico foi o maior responsável por atos violentos em 2013 (43%), seguido do Al Shabaab (25%), pela Al Nusrah (21%) e pela Al Qaeda na Península Arábica (10%).

Presidência do Quênia/Reuters
O shopping Westgate, em Nairóbi (Quênia), após atentado do Al Shabaab em setembro de 2013
O shopping center Westgate, em Nairóbi (Quênia), após o atentado do Al Shabaab em setembro de 2013

REDES SOCIAIS

A morte de Bin Laden, o autor dos atentados de 11 de setembro de 2001, em 2 de maio de 2011 havia sido considerada um marco na malfadada "guerra ao terror" e uma prova da eficácia dos assassinatos seletivos por drones ou outros meios.

Aparentemente, houve exagero no otimismo.

Mesmo sem um líder ideológico forte, elementos novos levaram à multiplicação do terror. A Síria em guerra civil e a Líbia em processo de desintegração após a morte de Muammar Gaddafi se transformaram em terreno fértil para novos grupos jihadistas.

As redes sociais são o instrumento perfeito para recrutamento de milicianos.

Para analistas, a descentralização da jihad representa um desafio, pois ampliou o "campo de batalha". Antes, ações se concentravam em Iraque, Afeganistão e Paquistão; agora, se estendem para África, Síria, Iêmen. Mas eles afirmam que o maior risco é para populações locais, na África e Oriente Médio, e na Europa.

Os EUA e alvos americanos no exterior estariam mais protegidos dos ataques dessa jihad descentralizada.

Segundo o Departamento de Estado, dos 12 533 mortos pelo terror em 2013, eram cidadãos americanos 16.


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