Folha de S. Paulo


Famílias celebram sobrevivência em algumas vilas do interior do Nepal

O almoço da família Ratna, embaixo de uma lona improvisada no vilarejo de Trishuli, é interrompido por um comboio de motocicletas que sobe as ladeiras de terra batida buzinando sem parar.

É a celebração de uma boa notícia: um dos moradores daquele povoado —desaparecido e, em seguida, considerado morto— sobreviveu ao tremor que deixou mais de 5.000 vítimas no Nepal e países vizinhos .

Enquanto equipes de ajuda humanitária começam a chegar a regiões mais afastadas do Nepal (Trishuli está a três horas da capital, Katmandu), em alguns dos vilarejos as previsões pessimistas parecem ser equivocadas.

Nesse povoado, por exemplo, moradores relatam quatro mortes à reportagem da Folha, entre suas centenas de habitantes, e nenhum ferido em situação grave.

O número surpreende, diante das construções destruídas ao longo da estrada. Há casas totalmente desfeitas, em escombros. Mas diversos moradores não estavam ali dentro, no sábado de manhã, ou tiveram tempo de salvar-se dos tremores.

"Deus nos protegeu", afirma o muçulmano Jamil Ahmad, 60, encontrado pela reportagem enquanto tentava resgatar os colchões de dentro da sua casa —da qual pouco restou. A família não foi ferida e, hoje, dorme no pátio de uma escola local.

Ahmad estima que vai precisar de cerca de R$ 100 mil e seis meses para reconstruir sua casa, e espera receber, no meio do caminho, algum auxílio do governo. Por ora, ele diz não ter tido qualquer ajuda oficial ou de organismos internacionais.

Buddha Ratna, 71, não se ressente de não ter recebido auxílio. Ninguém da sua família se feriu no desmoronamento da casa e, apesar de hoje viver em uma tenda, diz ter comida e água o suficiente para o curto prazo. "A prioridade do governo é ajudar quem sofreu mais", diz.

REVISÃO

Notícias semelhantes chegavam do distrito de Gorkha, onde construções foram desmoronadas, deixando no entanto um número de mortos abaixo do temido. De acordo com informação da agência de notícias Associated Press, dos 1.300 moradores do vilarejo de Gumda, cinco foram mortos e 20 ficaram feridos.

Também foi reduzida, durante o dia, a estimativa de desaparecidos em um deslizamento de terra no povoado de Ghodatabela, próximo ao epicentro do terremoto. O governo contava 250 desaparecidos ali, mas, na quarta-feira (29), o anúncio oficial passou a ser de que "poucos" haviam sido atingidos.


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