Folha de S. Paulo


Líder de partido escocês pode decidir eleição no Reino Unido

Os britânicos vão às urnas daqui a menos de duas semanas e uma política escocesa de 44 anos, desconhecida até pouco tempo atrás, poderá ter o poder de definir a formação do governo.

Nicola Sturgeon, líder do SNP (Partido Nacional Escocês), foi chamada de "mulher mais perigosa" do Reino Unido pelo jornal "Daily Mail".

Pesquisa do instituto YouGov a declarou vencedora do único debate entre todos os líderes na TV, no dia 2, com 28% da preferência de quem viu. Naquele dia, venceu ainda a guerra da mídia social (113 mil menções no Twitter).

Andy Buchanan - 27.abr.2015/AFP
A líder do SNP, Nicola Sturgeon, acena ao deixar escola em Kilmarnock, Ayrshire, sudoeste da Escócia
A líder do SNP, Nicola Sturgeon, acena ao deixar escola em Kilmarnock, Ayrshire, sudoeste da Escócia

A fama não é para menos. Seu partido simboliza o cenário provável para a eleição de 7 de maio: o do "hung Parliament", ou Parlamento "enforcado", quando nenhum dos partidos tradicionais, Conservador e Trabalhista, obtém maioria para governar.

É preciso conseguir ao menos 326 das 650 cadeiras. Se nenhum partido atingir esse total sozinho, terá de negociar apoio com outros menores.

Desta vez, já se fala em Parlamento "superenforcado", muito mais dividido do que em 2010, quando os conservadores se juntaram aos liberais-democratas para fazer David Cameron premiê, na primeira coalizão desde 1974.

Pesquisas mostram disputa acirrada entre conservadores e trabalhistas, mas sem passar do teto de 35% e longe de maioria. Outras quatro siglas que aparecem são SNP, liberais-democratas, Ukip (extrema direita) e verdes.

A grande surpresa deve ser o SNP, com ao menos 40 das 59 cadeiras escocesas do Parlamento em Londres –hoje tem só seis. Como terceira força, seria o "fiel da balança".

A quase vitória no plebiscito de separação da Escócia do Reino Unido em 2014 deu força para o partido desbancar de vez os trabalhistas na preferência dos escoceses.

Desconhecida das rodas da política britânica, Sturgeon foi eleita em novembro a primeira mulher a chefiar o Parlamento escocês. A mídia londrina tenta decifrar quem é essa advogada que, mesmo sem chance de ser primeira-ministra, deve ser essencial para selar o destino do governo.

Em entrevista à Folha, o jornalista escocês David Torrance, que escreveu a única biografia de Sturgeon, definiu-a assim: "Como todo político moderno, ela tem um pouco de tudo ideologicamente. Quando o assunto é armas nucleares, é de esquerda. Quando é Imposto de Renda, é até de centro-direita".

Sturgeon terá o poder de dar ou não a maioria de que os trabalhistas precisam para tornar seu líder, Ed Miliband, primeiro-ministro.

Alinhados ideologicamente, ambos se opõem à rígida austeridade fiscal da gestão Cameron. Ainda que não aceite coalizão formal, o que é provável, o SNP pode dar o voto de confiança a Miliband, o que resultaria num "governo de minoria" dos trabalhistas.

A opção seria ficar na oposição e deixar livre a recondução de Cameron como premiê.

É um caminho que manteria em cena o discurso de independência escocesa, principal bandeira do SNP, e a chance de tentar um novo plebiscito de separação. "Essa é uma eleição de vencer ou vencer para o SNP", ressalta o biógrafo da líder escocesa.

Sturgeon sinaliza que quer os conservadores fora do governo: "Ainda queremos a independência da Escócia, mas, enquanto formos parte do Reino Unido, queremos mudanças em Westminster [sede do Parlamento]".


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