Folha de S. Paulo


Tremor atingiu maioria das atrações turísticas do Nepal

Além da tragédia humana, o terremoto que devastou o Nepal atingiu o coração simbólico e econômico do miserável país asiático. O epicentro do sismo foi entre as duas principais cidades do país, a capital Katmandu e o resort de Pokhara.

Os dois maiores atrativos do país, cuja economia é dependente dos cerca de 800 mil turistas que por lá desembarcam anualmente, estão compreendidos nesta região: a riquíssima cultura, expressa pela arquitetura única do vale de Katmandu, e as regiões montanhosas mais altas da Terra.

Em relação à arquitetura, as primeiras imagens disponíveis são aterradoras. A praça Durbar, centro espiritual de Katmandu, teve várias edificações históricas reduzidas a ruínas _aparentemente, até o templo hinduísta que dá nome à cidade, o Kasthamandap, de 1596.

Perto dali, desabaram o nove andares da famosa torre Dharahara, um monumento de 1832 cujo observatório no oitavo piso servia de imã para turistas tirarem fotos do centro histórico da cidade. É presumível, pela hora do sismo, que muitos estejam sob os escombros.

O centro histórico da cidade e os de outras vilas menores do vale de Katmandu são patrimônio da humanidade declarado pela Unesco. Não está clara a extensão dos estragos em locais como Bakhtapur e Patan, com conjuntos de templos tão imponentes quanto os da capital.

A constituição física da capital nepalesa favorece a ampliação dos números da tragédia. Além das antigas construções, que herdam quase 2.000 anos de tradição hinduísta e forte presença budista, toda sua área urbana é composta por um labirinto caótico de construções precárias de alvenaria. Lembra, e muito, uma grande favela brasileira, com esgotos a céu aberto.

Neste ambiente concentram-se cerca de 1 milhão de pessoas, uma densidade demográfica de absurdos 20 mil habitantes por km 2, quase três vezes mais que a cidade de São Paulo. Ruelas estreitas, prédios capengas e multidões nas ruas formam o cenário encontrado pelo terremoto.

O sincretismo religioso se vê em todos os lugares, com vacas sagradas para os hinduístas sendo contornadas por monges budistas de bicicleta, que por sua vez saúdam algum deus hindu esculpido. O cumprimento nacional exprime essa disposição: "Namastê", algo como "o deus que está no meu coração saúda o que habita o seu", em sânscrito.

O sismo atingiu também o magneto que atrai a maior parte dos turistas: a infraestrutura para esporte de aventura, em especial caminhadas, "trekkings" e montanhismo. Com oito dos dez maiores picos do mundo, incluindo o mais alto de todos, o Everest, o Nepal é uma espécie de Meca para os apaixonados por essas atividades.

O setor de serviços domina 45% do PIB local, de irrisórios US$ 67 bilhões ano passado _mais ou menos 25 vezes menor que o do Brasil.

O epicentro próximo a Pokhara afetou a cidade, que fica à beira do plácido lago Phewa, serve de base para as rotas de acesso às trilhas de montanha da cadeia do Annapurna. Com altitudes médias menores do que as da região do Everest, elas são as mais populares do Nepal.

Houve relatos de que uma avalanche matou montanhistas no campo base do Everest, o ponto mais alto que o caminhante sem autorização para escalada pode ir, a 5.364 m dos 8.848 m do monte. Um grupo de brasileiros estava, na hora do terremoto, a meio caminho de lá, pelo vale de Gokio. Como só deverão ter acesso a comunicação neste domingo, não há confirmação direta sobre o estado deles, mas relatos de carregadores que trabalham na área informam que não houve danos por lá.


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