Folha de S. Paulo


'Contador de Auschwitz' diz ter responsabilidade moral por mortes

Oskar Gröning, conhecido como o "contador de Auschwitz", admitiu nesta terça-feira (21) sua responsabilidade "moral" na morte de deportados no campo de extermínio e pediu perdão para suas famílias no início de seu julgamento, em Lüneburg, no centro da Alemanha.

"Para mim não há dúvida de que sou moralmente cúmplice", afirmou Gröning, de 93 anos, que é acusado de participação no assassinato de 300 mil pessoas nas câmaras de gás de Auschwitz, na chamada "Operação Hungria", realizada em 1944.

Julian Stratenschulte/AFP
Oskar Gröning, que serviu no campo de Auschwitz, admitiu sua responsabilidade moral por execuções
Oskar Gröning, que serviu no campo de Auschwitz, admitiu sua responsabilidade moral por execuções

Gröning, que serviu no campo a partir de 1942, admitiu que desde sua chegada ao local sabia que judeus eram mortos em câmaras de gás e pediu perdão aos sobreviventes e familiares das vítimas presentes na audiência.

Ele se declarou à disposição da Justiça.

O processo contra Gröning é considerado um dos últimos grandes julgamentos por crimes nazistas, em razão da idade avançada dos envolvidos e das vítimas.

Gröning chegou à audiência caminhando com a ajuda de um andador e acompanhado por um de seus advogados. Entre as mais de 60 acusações particulares do caso, há sobreviventes do Holocausto e também familiares de vítimas de Auschwitz.

A promotoria sustenta que Gröning, encarregado de expropriar os pertences dos prisioneiros que chegavam a Auschwitz e de enviar o dinheiro tomado para a SS (polícia nazista), em Berlim, contribuiu para dar apoio econômico ao regime e a sua máquina de morte.

A acusação é focada em meados de 1944, quando, durante a denominada "Operação Hungria", chegaram ao campo de concentração e extermínio 425 mil deportados desse país e pelo menos 300 mil foram executados nas câmaras de gás.

Um processo judicial iniciado contra Göring no final dos anos 1970 foi encerrado pela Justiça em 1985 sem que chegasse a uma condenação.

A jurisprudência da Justiça alemã foi durante muito tempo indulgente com o "segundo escalão" dos nazistas.

A situação mudou bastante em 2011, com a condenação de John Demjanjuk, guarda dos campos de Treblinka e Sobibor, a cinco anos de prisão por cumplicidade em 27.900 mortes.

O guarda ucraniano, naturalizado americano após a Segunda Guerra, foi condenado com base em documentos de identidade que relatavam sua atividade de guarda no campo de Sobibor, sem que lhe tenha sido atribuída nenhuma morte específica.

Após esse processo, o Escritório Central Investigador dos Crimes do nazismo decidiu reabrir 30 casos, embora vários não tenham podido seguir adiante devido à incapacidade dos acusados.


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