Folha de S. Paulo


Plano do Brasil para Irã era melhor, diz Celso Amorim em Harvard

O ex-chanceler brasileiro Celso Amorim (2003-2010) afirmou nesta sexta-feira (17), em conferência na Universidade Harvard (EUA), que a proposta do Brasil e da Turquia para um acordo nuclear com o Irã, de 2010, era mais simples e "completamente aferível", em comparação ao pacto preliminar assinado por Teerã e as potências mundiais no último dia 2.

"O presidente Obama se queixa dos mesmos argumentos que foram usados contra nós [em 2010]. Isso [de não se poder confiar nos iranianos] me foi dito várias vezes", afirmou Amorim a cerca de 300 pessoas na Brazil Conference, um evento organizado pelos estudantes brasileiros de Harvard.

Segundo o relato do ex-ministro, em julho de 2009 o presidente Obama, em encontro com o então presidente Lula, disse que havia tentado "estender a mão" ao Irã "sem ser correspondido".

De acordo com Amorim, Obama sabia da visita que o presidente iraniano à época, Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013), faria ao Brasil em novembro daquele ano. Obama queria aproveitar a proximidade dos dois países para intermediar um acordo que ele não conseguiria patrocinar internamente.

"Os EUA precisam ter amigos que falem com quem a gente não pode falar", teria dito Obama em uma reunião com a presença de Amorim.

O ex-chanceler diz que o Brasil começou a se envolver na questão do programa nuclear iraniano a partir dali, e que os técnicos do Itamaraty buscavam um "acordo de criação de confiança", nos moldes do atual acordo americano. "Durante seis meses ficamos profundamente envolvidos, junto com a Turquia, [trabalhando em] uma proposta que tinha sido feita junto com os países ocidentais, na verdade os Estados Unidos."

À época, o pacto não foi reconhecido pela comunidade internacional –menos de um mês depois de assinado, o Conselho de Segurança da ONU aprovou, por 12 votos a dois (só Brasil e Turquia votaram contra), novas sanções ao Irã. Os Estados Unidos, que pareciam abertos ao diálogo, comandaram então a rejeição ao tratado.

Para os brasileiros, a mudança de atitude foi súbita e surpreendente. Amorim não entrou em detalhes durante a palestra, mas em seu livro de memórias e em entrevistas ele lembra que Hillary Clinton, então secretária de Estado dos EUA, apresentava uma postura mais bélica, em contraste com seu chefe.

O ex-chanceler reconheceu que o novo acordo é mais complexo. De acordo com ele, à época do acordo com o Brasil, o Irã tinha cerca de 2.000 quilos de urânio levemente enriquecido. "Hoje tem aparentemente 10 mil. Então, o ponto de partida da negociação seria muito melhor."


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