Folha de S. Paulo


Fabricante brasileira de armas 'não letais' prevê salto nas exportações

Num cenário desanimador para os exportadores brasileiros, a Condor não tem do que reclamar.

A fábrica de gás lacrimogêneo e outras armas "não letais", sediada em Nova Iguaçu (RJ), acaba de abrir escritórios em Cingapura e Abu Dhabi (Emirados Árabes), antecipando alta demanda e novos mercados.

Marcelo Ninio - 22.jul.2012/Folhapress
Menino sírio exibe bomba de gás da brasileira Condor, lançada pela polícia turca, na fronteira entre os dois países
Menino com bomba de gás da Condor, lançada pela polícia turca na fronteira com a Síria, em 2012

Em 2015, a empresa espera crescer entre 5% e 10%, já prevendo o aumento da insatisfação social no Brasil e em diversas partes do mundo.

Nas exportações, o salto previsto é de astronômicos 70%. "Em 2015, pela primeira vez, mais da metade do nosso faturamento virá de exportações", diz Paulo Amorim, diretor-superintendente da Condor.

No mercado de defesa global, a empresa é uma das brasileiras com maior presença.

Seus clientes são forças de paz da ONU, mas também países conhecidos por desrespeitar direitos humanos como Angola, Arábia Saudita, Turquia e Azerbaijão.

Em junho de 2013, as bombas de gás jogadas pelo governo turco em manifestantes contra o fechamento de um parque, que depois se transformaram numa onda de protestos semelhante à ocorrida no Brasil na mesma época, eram da Condor.

A empresa exporta para 45 países, com novos negócios surgindo. Nesta semana, seu stand na LAAD (feira de produtos de defesa, no Rio), recebeu diversas delegações de interessados.

MAIS DITADURAS

O sucesso é em parte atribuído à imagem do Brasil de país neutro, diz a empresa. "Os americanos são imprevisíveis, mudam as regras o tempo todo, vivem criando exigências", afirma Amorim.

O próximo mercado a ser aberto deve ser o Irã, que será liberado das sanções internacionais se for concluído um acordo nuclear.

Vender para regime repressores é um desejo admitido abertamente na Condor.

"É melhor que as ditaduras comprem nossos produtos. Se você tira as armas não letais, o que sobra são as letais. O resultado são 200 mil mortes na guerra síria", afirma Carlos Aguiar, presidente do Conselho.

Ele lamenta, por exemplo, a proibição internacional de venda para a Coreia do Norte, talvez o regime mais repressor do planeta.

A Condor não é empresa de capital aberto, portanto não diz quanto fatura.

Segundo critério do Ministério do Desenvolvimento, foi enquadrada na faixa de empresas que exportaram entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões em 2014.

Além do gás lacrimogêneo, vedete da companhia, o catálogo inclui balas de borracha, bombas de efeito moral e a Spark ("faísca"), uma nova arma de choque elétrico definida pelo diretor como "nossa nova menina dos olhos".

Exportações de armas precisam ser certificadas por Itamaraty e Ministério da Defesa, mas nem sempre é possível controlar uso e destino.

No ano passado, produtos da Condor foram encontrados na Costa do Marfim, que estava sob embargo de armas. Vieram da vizinha Burkina Fasso, cliente da empresa.

O conceito de "arma não letal", apregoado pela Condor, é questionado por entidades de direitos humanos, que as chamam de "menos letais". Citam como exemplo a repressão à Primavera Árabe no Bahrein em 2011, em que um bebê morreu por contato com gás da Condor.

"Essas armas podem causar ferimentos graves e até a morte. É preocupante a falta de controle e regulamentação do Estado brasileiro sobre seu uso e comercialização tanto aqui como para exportação", diz Camila Asano, coordenadora de Política Externa da Conectas Direitos Humanos.

Para a empresa, a solução é investir na formação dos que usam seus produtos. "Qualquer coisa pode matar se mal utilizada, até essa caneta Bic na sua mão", diz o diretor-superintendente.


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