Folha de S. Paulo


Paraguai pede que ex-prefeito acusado de matar jornalista seja extraditado

A Embaixada do Paraguai em Brasília trabalha para obter do Brasil a extradição do ex-prefeito paraguaio Vilmar Acosta Marques, 39, acusado de envolvimento no assassinato do jornalista Pablo Medina, correspondente regional do jornal "ABC Color", um dos maiores do país vizinho.

O pedido de extradição foi protocolado pela embaixada no Itamaraty em 30 de março e despachado ao Ministério da Justiça no dia 31.

Agora, o ministério deverá encaminhá-lo ao Supremo, onde já tramita, sob a relatoria do ministro Dias Toffoli, um processo visando a extradição de Acosta, que está preso em Mato Grosso do Sul.

Em outubro passado, Medina foi morto com tiros na cabeça e no peito numa emboscada, enquanto dirigia um jipe na zona rural do departamento (equivalente a Estado no Brasil) de Canindeyú, noroeste do Paraguai, na fronteira com o Brasil.

A estudante de jornalismo Antonia Almada, que estava com Medina, também morreu.

"ABC Color"
Vilmar Acosta, ex-prefeito da cidade paraguaia de Ypejhú, no dia em que foi preso
Vilmar Acosta, ex-prefeito da cidade paraguaia de Ypejhú, no dia em que foi preso

"Esse crime provocou tanta repercussão no nosso país porque é um atentado ao regime democrático e contra a liberdade de expressão e de imprensa", disse o diplomata Osvaldo Ostertag, ministro na embaixada paraguaia.

Em novembro, o juiz paraguaio Carlos Martínez decretou a prisão de Acosta, acolhendo pedido do Ministério Público, que apontara o envolvimento do ex-prefeito nas mortes. A mídia paraguaia relata que ele foi acusado de ser "autor moral" ou "intelectual" do crime –a Folha não teve acesso à acusação.

Acosta, porém, tinha fugido para o Brasil. A Interpol, associação mundial de polícias, incluiu o nome do ex-prefeito na "difusão vermelha", lista prioritária de foragidos, o que levou à sua prisão pela Polícia Federal em Naviraí (MS) em março.

Ele não foi deportado de imediato -ao contrário do que ocorreu com o médico brasileiro Roger Abdelmassih, preso em Assunção e entregue logo depois à polícia brasileira-, porque disse à PF que era cidadão brasileiro.
Acosta afirmou se chamar "Vilmar Marques Gonzales" e ter nascido em Paranhos (MS). Pela lei, o Brasil não pode deportar brasileiros natos.

Seguiu-se uma investigação que apontou várias irregularidades no registro civil brasileiro apresentado pelo ex-prefeito. A Justiça de MS determinou o cancelamento da certidão, expedida por um cartório de Sete Quedas (MS).

A pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Toffoli decretou, no dia 6 de março, a prisão preventiva de Acosta até que o pedido de extradição movido pelo Paraguai seja analisado.

O ex-prefeito está detido em Campo Grande, aguardando a decisão final do STF.

TRÁFICO E MORTES

Prefeito da cidade de Ypejhú na época do crime, filiado ao Partido Colorado, Acosta foi o foco de diversas reportagens de Pablo Medina.

Em 2010, Medina escreveu que o assassinato de dois irmãos de Acosta, Elio e Victor, provavelmente estava ligado a brigas de facções pelo controle do tráfico em Canindeyú.

Segundo o "ABC Color", a reportagem rendeu a primeira ameaça de morte a Medina. Citando dados da Promotoria, o jornal informou que "cerca de 60%" dos moradores da cidade de Villa Ygatimí estão ligados de alguma forma ao cultivo da maconha.

O "ABC Color" relatou que o "clã Acosta" é relacionado pela polícia a pelo menos 24 assassinatos em Canindeyú.

Em 2011, Acosta e seu pai, Vidal, foram detidos pela polícia após a localização de ossos e cabelos humanos numa propriedade rural da família. Foram soltos logo depois e isentados de acusação.

A Folha não localizou o advogado do ex-prefeito. Num depoimento em 5 de março, Acosta disse à PF brasileira já ter sido acusado de "um homicídio" no Paraguai, pelo qual "chegou a ser preso", mas teria sido absolvido.

O ex-prefeito negou participação nas mortes de Medina e Almada e disse que nunca teve vínculo com traficantes nem participa "do sistema chamado 'narcopolítica'".

Acosta disse não ter conseguido concluir seu mandato na Prefeitura de Ypejhú, em 2014, porque foi "acusado pela Justiça paraguaia e por opositores" de envolvimento no crime.

Teria sido orientado pelo seu advogado a deixar a prefeitura logo após a decretação da prisão.


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